A posição foi assumida à Lusa pelo líder parlamentar do maior partido da oposição, Raul Danda, depois de no sábado um grupo de deputados da UNITA ter terminado uma visita de três dias ao Huambo, para avaliar os acontecimentos de 16 de abril, que envolveram elementos da igreja "A luz do mundo" e a polícia, quando tentavam capturar o líder desta seita ilegal, terminando ainda com nove polícias mortos.

"Ninguém se pode sentir bem, posso dizer que não tivemos um sono tranquilo. Foi feita uma chacina em nome de qualquer coisa que a gente não consegue perceber", afirma Danda.

A UNITA garante ter contactado "diferentes setores da sociedade" nos últimos dias, desde elementos governamentais a religiosos, mas também "angolanos que estiveram no monte Sumi [local dos confrontos], que assistiram à tragédia e escaparam milagrosamente dela" e o que apurou "é simplesmente aterrador".

"Se o assassinato dos agentes da polícia foi violento, brutal e desumano, o que se lhe seguiu não foi, nem de perto nem de longe, menos brutal, menos violento, ou menos desumano", garante o deputado.

Os seguidores da seita liderada por Julino Kalupeteka - mais de 3.000 estariam acampados na zona aguardando pela concretização da profecia do fim do mundo em 2015 - ofereceram resistência à polícia e ao mandado de captura, mas na versão do partido do 'galo negro', segundo os relatos recolhidos localmente, não estariam na posse de armas de fogo.

Ainda de acordo com Raul Danda, em função das agressões mortais aos agentes, iniciou-se "um verdadeiro massacre, uma verdadeira carnificina que não poupou nem homem nem mulher, nem jovem nem velho, nem mesmo as crianças". Garante mesmo que esta versão é confirmada por elementos da "própria polícia e das forças armadas" que terão participado na operação.

"E que dizem ter disparado indiscriminadamente contra as populações, usando inclusive catanas para acabar com os feridos e assassinar aqueles que, desesperadamente, se escondiam por debaixo das camas ou de qualquer coisa, na tentativa de salvarem as suas vidas", acusa.

O acesso ao local dos confrontos permanece vedado, segundo vários relatos locais, desconhecendo-se os motivos.

As autoridades angolanas - desde a polícia aos governos provincial e central - têm vindo a reiterar que os confrontos terminaram, além dos nove agentes mortos, com 13 vítimas mortais entre os civis da seita de Kalupeteka, que já se se encontra detido.

"As informações de que dispomos, no entanto, apontam para um balanço provisório de 1.080 civis mortos, entre homens, mulheres, velhos e crianças, havendo um clima de terror no seio das populações que têm medo de chorar os seus mortos para não serem conotadas com o Kalupeteka. Medo que impediu que comparecessem na morgue, conforme instrução do governo provincial, para o eventual reconhecimento de algum parente entre os 13 corpos aí expostos", assegura Raul Danda.

A UNITA já tinha anunciado anteriormente o pedido para a formação de uma comissão de inquérito parlamentar a estes incidentes, com os deputados do partido a queixarem-se agora de terem sido impedidos, durante a visita ao Huambo, no planalto central de Angola, de aceder ao local dos confrontos.

"Querem arranjar outra guerra, agora contra civis inocentes", rematou Danda, criticando a atuação do Governo liderado por José Eduardo dos Santos.

PVJ// ATR

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