Nas suas Perspetivas Económicas Africanas, hoje lançadas durante os encontros anuais do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) em Acra, o banco conclui que o Produto Interno Bruto (PIB) real de África recuperou fortemente no ano passado para 6,9%, depois da recessão em 2020 originada pela pandemia de covid-19.

Este crescimento foi apoiado na recuperação da procura global, no aumento dos preços do petróleo, que beneficiou as economias exportadoras de petróleo, no alívio das restrições associadas à covid-19 e foi associado a um crescimento no consumo e no investimento interno.

No entanto, o banco prevê que a economia africana desacelere este ano para 4,1%, refletindo incertezas relacionadas com a persistência da covid-19 e o impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Este conflito, escreve o presidente do BAD, Akinwumi Adesina, no prefácio do relatório, "ameaça comprometer as promissoras perspetivas económicas do continente", que se "arrisca a cair na estagnação, uma combinação de crescimento lento e inflação alta".

Segundo o banqueiro, se a guerra persistir, o crescimento de África deve estagnar em cerca de 4% em 2023.

Segundo o relatório, o crescimento económico de África varia muito entre países e regiões.

O Norte de África, que em 2021 foi a região que mais cresceu (11,7%), deverá este ano ver abrandar a economia para 4,5%, enquanto a África Oriental, que no ano passado cresceu 4,8%, deverá estabilizar em 4,7%.

O crescimento médio na África Ocidental foi de 4,3% em 2021 e deverá manter-se forte, em 4,1% este ano, enquanto a economia da África Central deverá crescer 4,6% em 2022, após os 3,4% de 2021.

O crescimento estimado da África Austral, de 4,2% em 2021, representa a maior recuperação, de uma contração de 6%, sustentada na recuperação do Botsuana (12,5%), Maurícias (4%), e da África do Sul (4,9%). Em 2022, a economia da região deverá desacelerar para 2,5%, à medida que os efeitos de grandes estímulos fiscais se esgotam.

O relatório alerta ainda que o crescimento de África é muito incerto: os efeitos da guerra na Ucrânia podem provocar uma queda maior do que o esperado na produção global e a baixa taxa de vacinação anti-covid-19 associada ao surgimento de novas variantes pode forçar novas restrições.

Outros fatores negativos incluem vulnerabilidades de dívida aumentada, condições financeiras globais apertadas à medida que as pressões inflacionárias aumentam, o efeito do conflito Rússia-Ucrânia e as sanções sobre a Rússia, riscos climáticos e ambientais e outras questões sociopolíticas e de segurança.

Os fatores positivos incluem uma implementação mais rápida da vacinação, uma resolução abrangente dos problemas da dívida e políticas para acelerar a transformação estrutural e construir resiliência económica, conclui o BAD.

Os economistas do banco africano alertam que a dívida soberana continua a ser uma ameaça para a recuperação económica, apesar de recentes iniciativas de alívio do défice.

Embora se estime que o défice de África estabilize em cerca de 70% do PIB em 2021 e 2022, depois de 71,4% em 2020, ainda está acima dos níveis pré-pandémicos.

Os economistas avisam também que a baixa taxa de vacinação contra a covid-19 -- apenas 15,3% da população está totalmente vacinada, contra pelo menos 60% nas outras regiões do mundo -- impedem uma recuperação económica mais rápida e agravam o impacto da pandemia na saúde.

E lembram que África é a região mais afetada pelos choques climáticos: cinco dos 10 países mais afetados em 2019 estão no continente e só em 2020 e 2021, o continente registou 131 desastres relacionados com o clima (99 inundações, 16 tempestades, 14 secas, e dois incêndios florestais).

"As alterações climáticas representam por isso um risco substancial para as economias africanas, ameaçam a vida e os meios de subsistência de milhões de pessoas", referem.

Os encontros anuais do BAD, o evento mais importante da instituição que tem 54 Estados-membros africanos e 27 não africanos, decorrem desde segunda-feira e até sexta-feira em Acra, sob o tema "Alcançar a Resiliência Climática e uma Transição Energética Justa para África".

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*** A Lusa viajou a convite do Banco Africano de Desenvolvimento ***