Porém, mesmo antes do anúncio feito hoje pelo presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, de que todos os membros indigitados pelo partido saem na segunda-feira, Agio Pereira já tinha sido afastado do executivo pelas mexidas na orgânica aprovadas em Conselho de Ministros.

Formalmente, o seu cargo de ministro de Estado na Presidência do Conselho de Ministros foi extinto, no âmbito de uma remodelação aprovada pelo executivo, assinada pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e que aguarda promulgação pelo Presidente da República.

Agio Pereira, que já não participou nas últimas duas reuniões do Governo, escusou-se à Lusa a fazer qualquer comentário sobre a sua situação, remetendo-se ao silêncio.

Mas fontes próximas ao governante, ouvidas pela Lusa, confirmam o "desconforto" com as mexidas no Governo, introduzidas à última hora na reunião da semana passada do Conselho de Ministros e agora novamente mexidas.

Pesa ainda a decisão de Xanana Gusmão -- ao lado de quem Agio Pereira tem estado há décadas -- que a 11 de março comunicou ao primeiro-ministro a saída da sua força política do executivo e que hoje anunciou para segunda-feira a saída dos ministros.

Agio Pereira trabalhou para cinco Governos e quatro primeiros-ministros de três partidos diferentes, conquistando uma confiança alargada e estando envolvido na resolução de várias crises e problemas, com maior ou menor visibilidade, que o país atravessou.

Talvez por isso seja considerado hoje um dos poucos em Timor-Leste que ainda fala regularmente com os principais líderes nacionais -- Xanana Gusmão (CNRT), Mari Alkatiri (Fretilin) e Taur Matan Ruak (PLP).

Ao lado de Xanana Gusmão nas negociações com a Austrália sobre o tratado das fronteiras, Agio Pereira ajudou a desbloquear "vários imbróglios" políticos e jurídicos nas palavras de fonte do Governo, com possíveis impactos "significativos" para o Estado.

No primeiro ano do mandato do atual Governo, chegou a ser apelidado do "ministro um terço" por liderar interinamente várias pastas do executivo deixadas sem ministro quando o Presidente da República se recusou a dar posse a vários membros indigitados.

Entre essas pastas contam-se, além da Presidência do Conselho de Ministros, pastas 'pesadas' como a Coordenação dos Assuntos Económicos, o Planeamento e Investimento Estratégico e o Petróleo e Minerais, estas duas ainda sob a sua tutela.

Pereira, que viveu em Lisboa nos primeiros anos da ocupação indonésia de Timor-Leste, imigrou para a Austrália em 1980 liderando em Darwin o Comité da Fretilin e, depois, estabeleceu em Sydney a East Timor Relief Association (ETRA), uma das organizações mais ativas na mobilização de apoios e solidariedade com a resistência timorense.

Músico -- liderou durante anos o Grupo Musical 28 de novembro -, publicou o 'jornal' Matebian News, reunindo um vasto arquivo documental que desde aí tem vindo a ampliar, com um conteúdo "invejável" de muitos dos momentos cruciais da vida de Timor-Leste desde 1974.

Membro da Comissão Política Nacional do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT) -- estrutura que representou o voto pela independência no referendo de 30 de agosto de 1999 -- liderou depois a Comissão Nacional de Emergência, que coordenou o apoio à população depois da violência indonésia e das milícias pró-Jacarta.

Sempre ao lado de Xanana Gusmão, tornou-se chefe de gabinete e da Casa Civil do líder histórico timorense quando este assumiu a Presidência da República, cargo onde ficou algum tempo depois da tomada de posse do chefe de Estado seguinte, José Ramos-Horta.

Em 2007 estreia-se no Governo, assumindo o cargo de secretário de Estado do Conselho de Ministros o IV Governo, liderado por Xanana Gusmão e cinco anos depois sobre a ministro da Presidência do Conselho de Ministros, já no V Governo constitucional, também chefiado por Xanana Gusmão.

Agio Pereira manteve o cargo no VI Governo, já liderado por Rui Maria de Araújo -- onde passou a ministro de Estado e ministro da Presidência do Conselho de Ministros.

No Governo seguinte, o VII liderado por Mari Alkatiri, Agio Pereira foi ministro adjunto do primeiro-ministro para a Definição das Fronteiras Marítimas, cabendo-lhe a si assinar, em Nova Iorque, com a ministra dos Negócios Estrangeiros, o tratado de fronteiras marítimas que ajudou a negociar com Xanana Gusmão.

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