A mostra temporária, que se realiza no ano em que se assinalam os 500 anos da morte do rei D. Manuel I de Portugal, tem comissariado a cargo do diretor do MNAA, Joaquim Oliveira Caetano, e dos investigadores Rosa Bela Azevedo, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e Rui Loureiro, da Biblioteca Nacional de Portugal.

"Vi o Reino Renovar - Arte no Tempo de D. Manuel I", que ficará patente até 26 de setembro na Galeria de Exposições Temporárias do museu, resulta da colaboração estabelecida com aquelas duas entidades, e procura espelhar "uma intensidade de produção artística e arquitetónica que se traduziu num dos mais brilhantes períodos da arte portuguesa", de acordo com o dossiê de apresentação da mostra, do MNAA.

As obras, provenientes de diferentes instituições e coleções nacionais, serão dispostas em quatro núcleos: "Vi o Reino Renovar. Arte no tempo de D. Manuel I nos 500 anos da sua morte", sobre o gosto do rei; "O poder das artes, entre o deleite, a novidade e a propaganda", sobre a arte e cultura na corte manuelina; "A reforma dos forais e a Leitura Nova: a escrita e a iluminura como instrumentos de poder", sobre a iluminura e a escrita na reforma administrativa do reino; e "A imprensa: o prestígio de uma arte nova e eficaz", sobre a importância da imprensa no reinado de D. Manuel I.

O gosto pessoal do rei, "a necessidade de estabelecimento de uma identidade visual e simbólica do primeiro monarca do novo ramo da dinastia de Avis [Manuel I sucedeu ao primo João II], a disponibilidade económica e a autoconsciência do acréscimo da importância política que a expansão territorial dava ao país estiveram na origem do enorme interesse por formas de representação artística", recordam os curadores sobre a ação do monarca.

D. Manuel "teve a clara consciência" do impacto das várias formas de arte na sociedade, "utilizando-as numa prática cerimonial, administrativa e política bem articulada, quer nos resultados, quer na criação de estruturas de base que regiam e executavam as inúmeras empreitadas que admiravam os seus contemporâneos e ainda hoje nos podem surpreender", destacam os comissários, num texto sobre a exposição.

"É sobre essa enorme dimensão expressiva da sua atuação como rei que esta exposição reflete, através de áreas tão diversas e 'novas' como a pintura, a produção de documentos ou o desenvolvimento da imprensa", adiantam ainda.

A exposição irá apresentar uma seleção de peças de escultura, pintura e de diversos documentos - como livros, códices e iluminuras -, para a evocação dos tempos do reinado. É o caso do "Livro das Horas", de D. Manuel, da "Bíblia dos Jerónimos", do "Livro chamado espelho de Cristina", de Christine de Pisan, e do "Livro das Ordenações", impresso por Ioham Pedro Bonhomini, que se juntam a tapeçarias de Manufatura de Tournai, a obras de escultores como Diogo Pires-o-Moço, Olivier de Gand e Fernão Muñoz e de pintores como Gregório Lopes e Jorge Leal.

Os responsáveis pelo comissariado ressalvam que a exposição "não ambiciona ser um balanço das práticas artísticas no tempo de D. Manuel I e, muito menos, uma abordagem biográfica ou política" sobre o rei, mas sim "analisar a relação do monarca com a prática artística, uma das mais importantes de toda a história portuguesa".

"Essa importância e brilho manifestaram-se, não apenas na intensidade com que [D. Manuel I] promoveu, patrocinou e encomendou obras de arquitetura, iluminura, pintura, escultura ou artes decorativas", mas também "pela forma como utilizou a produção artística na sua estratégia de representação e afirmação real".

A D. Manuel I, se ficaram a dever a introdução, na administração régia, de estruturas vocacionadas para a gestão dos seus projetos artísticos e arquitetónicos, criando vedorias e incorporando artistas nesse sistema, com cargos próprios que incluíam funções de administração, gestão e de diplomacia.

"Vi o Reino Renovar - Arte no Tempo de D. Manuel I" conta com o mecenato do BPI e da Fundação La Caixa.

Criado em 1884, o MNAA alberga a mais relevante coleção pública do país em pintura, escultura, artes decorativas -- portuguesas, europeias e da Expansão --, desde a Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como "tesouros nacionais", assim como a maior coleção de mobiliário português.

No acervo encontram-se, nos diversos domínios, algumas obras de referência do património artístico mundial, nomeadamente, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV.

Também detém a Custódia de Belém, obra de ourivesaria de Gil Vicente, mandada lavrar por D. Manuel I e datada de 1506, e os Biombos Namban, do final do século XVI, registando a presença dos portugueses no Japão.

O tríptico "As Tentações de Santo Antão", de Hieronymus Bosch, "Santo Agostinho", de Piero della Francesca, "A Conversação", de Pietr de Hooch, e "São Jerónimo", de Albrecht Dürer, estão entre as mais conhecidas obras do museu.

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