A taxa brasileira da chamada insegurança alimentar atingiu em 2021 o seu nível mais alto desde que o indicador começou a ser medido em 2006, quando era de 20%, e pela primeira vez ultrapassou a média mundial (35%), segundo um estudo divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo o relatório do prestigiado centro privado de estudos económicos e sociais, a insegurança alimentar no Brasil afeta principalmente as famílias mais pobres, as mulheres e as pessoas com idades compreendidas entre os 30 e 49 anos, cujos agregados familiares têm o maior número de crianças.

O estudo analisou dados relativos ao Brasil de um inquérito que a empresa Gallup World Poll realizou anualmente em cerca de 160 países desde 2006, permitindo uma comparação global, e que perguntou a 125.000 inquiridos em todo o mundo entre agosto e novembro do ano passado se as pessoas não tinham dinheiro para se alimentarem a si próprias ou às suas famílias em algum momento dos últimos doze meses.

Segundo a FGV, embora o Brasil tenha feito progressos significativos na luta contra a fome desde então, a situação agravou-se com a grave recessão que o país conheceu em 2015 e 2016 e, mais recentemente, com a crise gerada pela pandemia da covid-19 (2020 e 2021).

Entre os 20% mais pobres dos brasileiros, a taxa de insegurança alimentar saltou de 53% em 2019 para 75% em 2021, bem acima da média global para este segmento (48%) e ao nível da média dos países com as taxas mais elevadas, como o Zimbabué (80%).

A taxa de insegurança alimentar entre as mulheres no Brasil foi de 47% (contra 26% entre os homens), bem acima da média mundial (37%).

Em contraste, entre os 20% mais ricos do Brasil, a taxa de insegurança alimentar caiu de 10% em 2019 para 7% em 2021, um terço da média mundial para este segmento (21%) e um nível semelhante ao de países como a Suécia (5%), a taxa mais baixa do mundo.

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