Em 15 de dezembro de 1939, o avião SM 83 I-AZUR, comandado por Gori Castellani, aterrava na então base de Espargos, ilha do Sal, numa escala da primeira travessia atlântica oficial da LATI, transportando correio para o Brasil e Argentina. Aquele foi também o primeiro voo comercial a escalar o arquipélago de Cabo Verde, então colónia portuguesa.

A data está a ser comemorada em Cabo Verde e coincide com a transformação do agora Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, o maior do país, junto à cidade de Espargos, num 'hub' aéreo em pleno Atlântico, para servir de ligação para os voos sobretudo da companhia nacional Cabo Verde Airlines (CVA) de África para a Europa e América, como explicou à Lusa o presidente do conselho de administração da empresa estatal Aeroportos e Segurança Aérea (ASA).

"A marca [80 anos] é sobretudo importante porque coloca o Sal no centro da aviação internacional e a localização de Cabo Verde, e da ilha do Sal em particular, dá-nos imediatamente a noção da vocação que este aeroporto teve no passado e que certamente tem de ser capitalizada para o futuro. Todo o projeto que existe de revitalização do aeroporto do Sal tem naturalmente em conta a sua vocação também do passado", afirmou à Lusa Jorge Benchimol.

Antes do voo comercial da LATI, a então base área de Espargos, no centro da ilha do Sal, recebeu voos de teste. Com a viagem de 15 de outubro de 1939, foi inaugurada a Linha Aérea do Sul do Atlântico, semanal e que operava entre Roma e Buenos Aires, passando por Sevilha, Vila Cisneros (Marrocos), ilha do Sal e Recife, de onde seguia depois para Rio de Janeiro, regressando pelo mesmo percurso.

"Como deve imaginar era uma operação muito precária e em condições que não se comparam com os dias de hoje", recorda o administrador da ASA, empresa estatal, em processo de privatização, que gere os aeroportos de Cabo Verde.

Da base aérea original, que começou a ser projetado na década de 30 do século passado, então denominado de Aeródromo Internacional da Ilha do Sal, em Espargos, ficou atualmente a localização. Da companhia italiana que operava a ligação, são hoje mais de 30, inclusive o gigante turístico alemão TUI, não fosse aquela ilha a mais turística de Cabo Verde, mas também dos colossos Thomas Cook (filial escandinava) ou Thomson.

"Hoje é um aeroporto diferente. Já tem o seu primeiro milhão de passageiros, alcançado há um ano em tal, e com perspetivas para continuar a crescer. O tráfego internacional continua a crescer, passageiros e aeronaves", explica Jorge Benchimol.

Com duas pistas, uma das quais com mais de 3.200 metros, o atual Aeroporto Internacional Amílcar Cabral recebe, além das ligações comerciais de passageiros, também voos militares, das forças aéreas do Reino Unido e dos Estados Unidos, mas também do Brasil e do Canadá, entre outras.

A partir do aeroporto da ilha do Sal -- e com radares também nas ilhas de Santiago e Santo Antão - funciona ainda a FIR Oceânica do Sal de Cabo Verde, que em 2018 controlou 51.694 movimentos de aeronaves, o maior número de sempre, segundo a ASA.

A gestão desta FIR oceânica por Cabo Verde, segundo o presidente da ASA, é uma "responsabilidade grande" para o país. Segundo Jorge Benchimol, tudo indica que 2019 vai "terminar com um novo recorde".

O Centro de Controlo Oceânico do Sal funciona no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, tendo sido inaugurado em 24 de junho de 2004.

A FIR (região de informação de voo) corresponde a um espaço aéreo delimitado verticalmente a partir do nível médio do mar, sendo a do Sal -- que existe desde 1980 - limitada lateralmente pelas de Dakar (Senegal), Canárias (Espanha) e Santa Maria (Açores, Portugal).

A localização estratégica da FIR do Sal "coloca-a, pois, na encruzilhada dos maiores fluxos de tráfego aéreo entre Europa e a América do Sul e entre a África Ocidental e a América do Norte e Central e as Caraíbas", segundo informação da ASA.

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