No início de 2018, cinco oficiais militares e 170 instrutores civis chegaram da Federação Russa a Bangui, e Moscovo vendeu armas ao Exército do país, depois de ter obtido autorização da Organização das Nações Unidas (ONU) para contornar o embargo de vendas de armas à República Centro-Africana.

Já formadas pela União Europeia, as Forças Armadas centro-africanas (FACA) beneficiaram da nova formação e, desde janeiro, mais de 400 efetivos foram deslocados para Dekoa e Sibut, no centro, Paoua, no norte, e Bangassou, no sudeste.

Esta deslocação de tropas, permitida pela presença russa, num país onde o Estado apenas controla a capital e arredores, é bem vista em Bangui.

Alicerçada neste sucesso, que a presença da missão das Nações Unidas para a República Centro-Africana (MINUSCA) ainda não tinha permitido, a Federação Russa prevê um novo fornecimento de armas e o envio de mais 85 instrutores, segundo uma fonte na sua embaixada em Bangui, ouvida pela France-Press.

O reverso da medalha daquela deslocação rápida de efetivos militares é a ausência de cadeia logística, segundo um dirigente centro-africano.

Para este, tal poderia conduzir "à mesma configuração que conduziu à implosão do Exército" em 2012, isto é, soldados estacionados no mesmo local, durante muito tempo, isolados da hierarquia, que recebem o salário com atraso e sem treino regular.

Em agosto, os peritos da ONU apontaram que, sem este apoio logístico, as FACA "não podem realizar operações sem o apoio operacional constante da MINUSCA e/ou dos instrutores russos".

Além do apoio aos militares, a Federação Russa também se intrometeu na complexa mediação com os grupos armados que controlam a maioria do território.

Desde julho de 2017 que a União Africana (UA) está a conduzir oficialmente as negociações. Mas, no final de agosto, Moscovo reuniu no território do seu aliado sudanês, em Cartum, quatro dos principais grupos armados para assinarem uma "declaração de entendimento".

Na mesma altura, a UA organizava uma outra reunião com os grupos armados, em Bouar, no oeste do país.

"Uma simples coincidência", minimizou, em declarações à France-Press, Valeri Zakharov, o russo que é o conselheiro de segurança do Presidente da República Centro-Africana, sublinhando que os dois processos são "complementares" e "não concorrenciais".

Se esta mediação paralela preocupou os parceiros da República Centro-Africana, segundo um observador, o seu impacto foi imediato: "A cimeira de Cartum levou a UA a agir mais depressa", segundo uma fonte diplomática em Bangui.

"Mas ela fragilizou os equilíbrios entre os grupos armados", continuou a mesma fonte, evocando em particular as tensões no seio do Movimento Patriótico para a República Centro-Africana (MPC, na sigla em Francês), de Mahamat Al-Khatim, quando alguns comandantes souberam da sua presença em Cartum.

Em Bangui, o governo disse ter "registado" a iniciativa russa, enquanto garantia que apoiava a mediação da UA.

Se a implicação crescente da Federação Russa na República Centro-Africana se inscreve na estratégia de reconquista geopolítica e económica do Kremlin em África, a presença russa reproduz em Bangui um "cenário muito antigo", segundo Thierry Vircoulon, investigador no Instituto francês de Relações Internacionais.

Para este, o governo centro-africano, com frequência, "tem recorrido a um fornecedor de segurança estrangeiro que (lhe) pareça mais fiável que as (suas) tropas", devido "ao seu fraco controlo político e à divisão das forças de segurança".

Desde a chegada dos instrutores russos, no início de 2018, que várias empresas russas se têm instalado em Bangui.

Entre estas, está a Lobaye Invest, que obteve recentemente uma autorização de pesquisa mineira, em Yawa, no oeste, e prospeção mineira, em Pama, também no oeste do país.

Entretanto, fonte da embaixada russa em Bangui adiantou que estão a ser estudadas oportunidades de investimento nos setores dos matadouros, da conservação, do mundo agrícola e madeira.

RN // SR

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