Das sete pessoas que vão ser distinguidas com o galardão, destacam-se os nomes de Margarida dos Santos Sousa, Manuela Gonçalves e José Gonçalves, vizinhos da sala de espetáculos e que na noite dos atentados abriram as portas dos seus prédios para salvar muitas vidas.

"O objetivo é fazer uma homenagem muito sentida a sete porteiros que, à volta do Bataclan e do Hyper Cacher [mercearia judaica alvo do ataque de 9 de janeiro de 2015] tiveram uma ação de solidariedade e correram riscos fisicamente", declarou à Lusa Hermano Sanches Ruivo, vereador de Paris e mentor da ideia, sublinhando que defendeu "pessoalmente os três nomes portugueses".

Margarida dos Santos Sousa, que abriu as portas do seu prédio e da sua casa para acolher os que escaparam ao ataque ao Bataclan, disse à Lusa estar "contente" com a homenagem de Paris, ainda que não estivesse à espera.

"O que fiz não foi para ter uma medalha, mas claro que fico contente de reconhecerem a ajuda que eu dei às pessoas. Orgulhosa não é bem a palavra, mas fico contente que a 'maire' de Paris tenha reconhecido aquilo que eu e as [outras] pessoas fizemos", reagiu a portuguesa oriunda de Ermesinde.

A viver há 35 anos em França e há 28 no bairro do Bataclan, Margarida Santos Sousa não consegue esquecer o 13 de novembro até porque passa frequentemente diante da sala de espetáculos e continua a receber visitas de várias das pessoas que ajudou na noite dos atentados de Paris.

"Sim, continuam a vir cá a casa. Já vieram depois do ano novo, desejar-me um bom ano, trouxeram-me flores, chocolates. Estamos em contacto uns com os outros", descreveu, sublinhando que "a vida continua" e que se deve "continuar a trabalhar e, sobretudo, demonstrar que não se tem medo".

O casal José e Manuela Gonçalves também passou a noite de 13 de novembro a acolher dezenas de vítimas do Bataclan no pátio do seu prédio e também ficou surpreendido e satisfeito com a notícia da atribuição da medalha.

"Não estava nada à espera disso porque eu e a minha esposa fizemos isso naturalmente, de coração, para ajudar as pessoas, o que é normal, uma pessoa está aqui para se ajudar uns aos outros. A medalha, francamente, fiquei emocionado porque não estava mesmo nada à espera", disse à Lusa José Gonçalves.

O português, da Maia, e a esposa, de Fafe, moram há 26 anos no bairro do Bataclan, que a 13 de novembro parecia "pior que o fim do mundo", com a polícia a pedir aos porteiros para abrirem os portões dos pátios para acolherem as vítimas.

"Quando abri a porta era tanta gente a entrar para a minha 'cour' [pátio], era uma média de 80 pessoas. Havia pessoas ligeiramente feridas, mas estavam cheias de sangue e a única pessoa que estava mesmo fraca e que entrou diretamente na minha 'loge' [casa] era uma senhora de 25 anos, mais ou menos" que estava grávida, recordou José Gonçalves, sublinhando que a jovem foi das primeiras a ser levadas para o hospital.

Hoje, José disse sentir-se "melhor" até porque "a vida tem que ir para a frente", mas ainda lhe custa passar em frente ao Bataclan.

As medalhas de bronze vão ser entregues durante uma cerimónia em que quase 600 porteiros também vão ser homenageados pela Câmara Municipal com o diploma de "porteiro da cidade de Paris", entre os quais há cerca de uma centena de portugueses, de acordo com Hermano Sanches Ruivo.

"Não é uma profissão fácil nem suficientemente reconhecida", declarou o vereador, salientando que a homenagem vai repetir-se todos os anos e que irá ser criado o "Dia dos direitos e dos deveres dos porteiros".

CAYB // VM

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