Pequim, 13 mar (Lusa) - O vídeo da parada militar que há meio ano assinalou o 70.º aniversário da vitória da China contra o Japão continua, até hoje, a ser difundido diariamente em todas as carruagens do metro de Pequim.

No centro da ação, está o Presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping, eleito primeiro líder da nação há três anos, a 13 de março de 2013.

Xi, que enverga um traje tradicional, saúda os militares desde o alto da Porta da Paz Celestial, onde Mao Zedong proclamou o nascimento da China comunista, em 1 de outubro de 1949.

"Camaradas, fizeram um grande trabalho", exclama. Em baixo, os militares respondem em uníssono: "Trabalhamos em prol do povo".

Naquele registo, com mais de duas horas, 12.000 soldados e um vasto arsenal militar desfilam na "Changan", a larga artéria que passa no topo norte da icónica praça Tiananmen.

Imagens aéreas realçam uma Pequim moderna, sob um sol intenso, livre do espesso manto de poluição que regularmente angustia os seus moradores.

Desde que ascendeu ao poder no partido há quatro anos, Xi Jinping tornou-se o centro da política chinesa, eclipsando os outros seis membros do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China.

A sua imagem surge em contraposição com a do líder monocórdico, associada ao seu antecessor, Hu Jintao.

É um homem que chora, mas sem ser piegas, como sugere uma reportagem recente na imprensa oficial, que enumera as quatro vezes que Xi lacrimejou desde 1960.

Frequenta restaurantes do 'povo', segundo um vídeo difundido na televisão estatal, onde aparece num estabelecimento, em Pequim, a comer uma refeição de 21 yuan (cerca 3 euros).

O "sonho chinês", o termo com que Xi se refere ao "rejuvenescimento da nação chinesa", passou a ser utilizado no discurso oficial para descrever as ambições do país, desde o futebol à exploração espacial.

Já o sistema de "liderança coletiva", cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970, parece ter sido desmantelado.

O Comité Permanente do Politburo, que no executivo anterior contava com nove membros, é agora composto por sete, à medida que Xi passou a encabeçar vários "grupos dirigentes" recém-criados, nomeadamente a Comissão Nacional de Segurança.

Entretanto, Zhou Yongkang, que esteve responsável pela supervisão do aparelho de Segurança da China, incluindo polícia e tribunais, até novembro de 2012, foi condenado a prisão perpétua por corrupção.

Segundo o órgão de Disciplina e Inspeção do PCC, cerca de 300 mil altos quadros do Governo chinês foram punidos por corrupção no ano passado, ilustrando a amplitude da campanha lançada por Xi.

Um relatório recente da Chinese Human Rights Defenders (CHRD) aponta que o número de presos políticos no país quase triplicou desde que ele chegou ao poder.

No mesmo período, a China consolidou o seu papel no plano internacional, com iniciativas como o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas ou a nova Rota da Seda.

Pequim passou também a reclamar abertamente a soberania de quase todo o Mar do Sul da China, construindo ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes disputados pelos países vizinhos.

A opção por um líder forte e decidido a manter a credibilidade do PCC e assegurar a sua permanência no poder coincide com um período de dolorosas reformas na economia chinesa.

Depois de três décadas a crescer em média quase 10% ao ano, a China cresceu 6,9%, no ano passado, o ritmo mais lento do último quarto de século.

Para 2016, Pequim fixou a meta entre 6,5% e 7%.

Nos próximos três anos, a vaga de despedimentos no setor estatal e nas indústrias pesadas poderá afetar até seis milhões de trabalhadores.

Xi deverá manter-se no cargo até 2022, completando um processo de sucessão política que ocorre apenas uma vez por década, mas quem será capaz então de herdar um 'trono' moldado à sua imagem?

JOYP // PJA

Lusa/fim

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