"Não estamos só a marchar contra o caso dela, que foi bastante explícito, estamos a marchar em repúdio ao facto de existirem tantas outras mulheres que perderam a vida neste contexto das manifestações (...)", declarou à Lusa Nzira de Deus, diretor do Fórum Mulher, uma coligação de organizações da sociedade civil que organizou o protesto.
Empunhando dísticos com mensagens de repúdio contra violência e entoando hinos de exaltação à mulher moçambicana, o grupo, maioritariamente composto por ativistas, percorreu menos de dois quilómetros da avenida Eduardo Mondlane, a mesma estrada em que a jovem foi atropelada na quarta-feira, sempre sob escolta policial.
"No dia 27, fui atropelada por quem devia proteger-me", lia-se num dos cartazes do grupo, que, a escassos metros de onde a jovem foi atropelada, fez uma oração.
A jovem, que ainda está a receber assistência médica, foi atropelada por uma viatura militar blindada que circulava em alta velocidade por volta das 09:30 locais (07:30 em Lisboa), num cenário de extrema violência -- não sendo claro se o condutor avistou a manifestante do outro lado da barricada.
O episodia, cujas imagens foram captadas pela comunicação social e diversas pessoas que estavam no local, revoltou os manifestantes, que até ao momento do incidente estavam apenas a cortar a circulação automóvel em praticamente todas as artérias centrais de Maputo, na sequência dos protestos convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro.
As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) assumiram, na quarta-feira, terem atropelado uma jovem na capital moçambicana, esclarecendo que o veículo se encontrava "numa missão de proteção de objetos económicos" contra manifestantes e que a vítima foi socorrida.
A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) apresentou, na sexta-feira, ao Ministério Público uma queixa-crime contra os militares que atropelaram uma jovem durante protestos pós-eleitorais, classificando a ação de "criminosa, violenta, bárbara e gratuita".
Várias entidades internacionais condenaram o episódio, incluindo as Nações Unidas e a União Europeia, que exigiram uma investigação ao atropelamento.
A onda de manifestações em Moçambique, com cerca de 70 mortos e mais de 200 feridos a tiro num mês, em resultado dos confrontos com a polícia, tem sido convocada por Venâncio Mondlane, que contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo nas presidenciais, com 70,67% dos votos, e, nas legislativas, da Frelimo, que reforçou a sua maioria absoluta, segundo os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Nesta fase, que começou na quarta-feira e terminou na sexta-feira, pelo menos três pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas devido ao disparo de tiros em Moçambique, indicou a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
EAC // JPS
Lusa/Fim
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