Em entrevista à Agência Lusa a propósito da Cimeira da Aliança Atlântica, a 8 e 9 de julho, em Varsóvia, Polónia, Azeredo Lopes disse que Portugal vai lutar para que o foco da cimeira não se esgote na questão do "flanco leste", já que outras ameaças globais, como a do terrorismo transnacional, exigem uma tomada de posição mais virada a sul.

O ministro da Defesa sublinhou que, na fase preparatória da cimeira, Portugal, Espanha, França e Itália dirigiram uma carta ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, a assumir a defesa de "um equilíbrio" entre as duas abordagens e da manutenção do diálogo e de uma solução política para a questão da Rússia, independentemente de uma "posição de firmeza" que venha a ser adotada.

"Não somos daqueles países com uma abordagem belicista no que respeita à Rússia (...) e não somos com certeza daqueles que defendem uma escalada militar no flanco leste. Deve-se transmitir posição de firmeza e uma mensagem de união. Portugal cumpre e é leal para com os seus aliados da NATO mas ao mesmo tempo defende que tanto quanto possível e sempre que possível devem ser desenvolvidas negociações com a Rússia", disse.

"Portugal é um aliado leal, deu um sinal claríssimo projetando as suas forças no leste europeu", acrescentou, referindo-se ao envio de uma bateria de artilharia ligeira para a Lituânia, até novembro.

A Rússia é acusada de fomentar o conflito armado no leste da Ucrânia, apoiando e lutando ao lado dos separatistas, e tem respondido com exercícios militares e reforço de tropas na fronteira ao aumento de meios da NATO no leste da Europa.

Do que se trata, prosseguiu o ministro, é de procurar que seja expresso, no comunicado final da cimeira, "um equilíbrio permanente entre flanco leste e flanco sul", porque a ameaça terrorista transnacional "não deve ser subestimada" e exige outro tipo de respostas.

"Portugal, França, Itália e Espanha não estão evidentemente a pedir o envio de batalhões ou exércitos para sul, até porque essa função mais militar, especificamente na Síria e no Iraque é assumida não pela Organização [NATO] mas pela coligação anti-Daesh [grupo 'jihadista' Estado Islâmico]", disse.

"O que se pede é que a Organização [NATO] invista mais nas formas de combater ou diminuir a influência do Daesh. Pode significar reforçar mecanismos de capacitação em matéria de Defesa de países a sul", defendeu.

Azeredo Lopes sustentou que esse esforço poderá passar por reforçar "formas complementares de atuação" entre a União Europeia e a NATO, num diálogo ainda mais necessário com a "potencial saída" do Reino Unido da União Europeia, em consequência do resultado do referendo de 23 de junho.

"Uma coisa tem que ficar clara, nunca se falou num exército europeu. O que se fala é fazer entrar definitivamente a questão da defesa, e articular a defesa com a segurança, definitivamente no contexto da União Europeia", disse.

"A palavra aqui é complementaridade entre as duas organizações. A União Europeia tem demonstrado capacidades muito interessantes do ponto de vista da capacitação para a segurança e desenvolvimento, tem vocação para isso. A NATO está mais vocacionada para a capacitação em matéria de defesa, em sentido militar. Parece óbvio que se as duas organizações conseguirem articular-se em relação a uma mesma região, o resultado será mais positivo", sustentou.

Aliás, acrescentou, Portugal "veria com bons olhos" a possibilidade de exercícios conjuntos: "Pode não ser possível no imediato mas com certeza pode haver um planeamento articulado de operações".

Quanto à preparação de uma missão da NATO no Iraque, Azeredo Lopes reiterou que Portugal não deixará de participar, afirmando que o que se discute "não é uma operação militar de grande envergadura" mas uma missão "que pode vir a situar-se no Curdistão iraquiano [norte] e que tem a ver essencialmente com formação, com treino, apoio logístico e formação de formadores".

Em paralelo, Portugal tem atualmente 32 militares no Iraque, em Besmaya, [perto da capital, Bagdad, no centro do país] numa missão de treino e formação de militares e de segurança iraquianas, no âmbito da coligação internacional anti-Daesh.

Azeredo Lopes, que desde que assumiu a pasta da Defesa tem preconizado um "regresso à ONU", frisou que esse regresso, que passa por privilegiar a participação das forças nacionais em missões no âmbito das Nações Unidas como "sistema multilateral" é feito "sem pôr em causa o código genético de defesa coletiva que é constituído pela NATO".

Para além disso, justificou, as missões da ONU têm uma contrapartida financeira que acaba por financiar parte dos custos implicados, ao contrário das missões NATO e da União Europeia, um aspeto que, observou Azeredo Lopes, "não é desagradável".

A delegação portuguesa à cimeira de Varsóvia é liderada pelo primeiro-ministro, António Costa, que será acompanhado pelos ministros da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, e dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva.

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