"O comunicado tem o objetivo de dar apoio e solidariedade ao ex-administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo, que está agora a enfrentar uma situação de acusações publicadas na imprensa", disse Gregório Saldanha em declarações à Lusa.

"Sentimos que temos a obrigação moral de o fazer porque, no tempo da resistência à ocupação indonésia, a Igreja Católica liderada pelo bispo Ximenes Belo deu-nos proteção, coragem, solidariedade e apoio nos momentos difíceis da luta. E neste momento temos obrigação de dar o nosso apoio a Ximenes Belo", referiu Saldanha, depois de uma curta conferência de imprensa em que leu um comunicado em nome da "Juventude Lorico Asuwain" -- uma das organizações juvenis que combateu a ocupação indonésia em Timor-Leste.

"Estamos sempre ao lado de Ximenes Belo e da sua família", afirmou.

Saldanha escusou-se a comentar se são "verdade ou não" as acusações de abuso sexual de menores contra Ximenes Belo, reiterando "a total confiança na hierarquia da Santa Sé, que tem competência para resolver o assunto".

O responsável pediu aos jornalistas timorenses e ao público em geral cuidado no tratamento do caso, para evitar "rumores", já que "quem conta um conto aumenta um ponto".

Saldanha acrescentou que os jornalistas deviam era focar-se nos problemas que afetam atualmente o país, como "corrupção, desenvolvimento, falta de emprego ou outros".

Questionado sobre se tinha alguma palavra para as alegadas vítimas, Saldanha sublinhou que, até ao momento, nenhuma visita apresentou queixa.

"Até agora não sabemos ainda quais são as vítimas. Ouvimos uma entrevista com o responsável da nunciatura em Díli em que mencionou que não houve queixas das vítimas junto da Igreja. Mas não sabemos ainda. E por isso entregamos, e com toda a confiança, à hierarquia da igreja para resolver este assunto", afirmou.

A Conferência Episcopal Timorense (CET) disse hoje que irá respeitar e cooperar com um eventual processo judicial no caso das acusações de abuso sexual de menores contra Ximenes Belo.

"Quando eventualmente instalado o processo judicial em Timor-Leste, a Conferência Episcopal Timorense vai respeitar e cooperar com o processo da justiça", refere um comunicado da CET, a que a Lusa teve acesso, assinado por Norberto do Amaral, bispo de Maliana e presidente da entidade.

"As acusações", refere, "estão sendo atualmente examinadas pelos órgãos competentes da Santa Sé, Vaticano".

O comunicado reage às "acusações de abuso sexuais dos menores", publicadas pelo jornal holandês De Groene Amsterdammer, explicando que este delito de "abuso sexual dos menores e adultos vulneráveis praticado pelos clérigos é reservado à Congregação para a Doutrina da Fé", segundo diretrizes do papa Francisco.

A Santa Sé anunciou na quinta-feira ter imposto sanções disciplinares ao bispo timorense Ximenes Belo nos últimos dois anos, após alegações de que o Nobel da Paz teria abusado sexualmente de menores em Timor-Leste nos anos 1990.

Em comunicado, o porta-voz do Vaticano disse que o gabinete que lida com casos de abuso sexual recebeu alegações "sobre o comportamento do bispo" em 2019 e, no prazo de um ano, tinha imposto sanções.

As sanções incluem limites aos movimentos do bispo e ao exercício do seu ministério, bem como a proibição de manter contactos voluntários com menores ou com Timor-Leste.

As medidas foram "modificadas e reforçadas" em novembro de 2021 e em ambas as ocasiões Ximenes Belo aceitou formalmente o castigo, acrescenta-se no comunicado, do porta-voz Matteo Bruni.

Fontes da Igreja Católica ouvidas pela Lusa confirmaram que o ex-administrador apostólico foi confrontado pela Santa Sé com as denúncias contra o Prémio Nobel, tendo admitido culpa, "mostrado remorso" e aceitado o castigo imposto.

Outras fontes explicam que há registos das denúncias em arquivos fora da Santa Sé e notam que o castigo imposto, que poderia incluir a laicização, teria eventualmente sido maior caso as vítimas tivessem apresentado formalmente as denúncias junto das autoridades eclesiásticas em Timor-Leste ou noutros países.

Na sua edição 'online', o jornal explica ter ouvido várias vítimas e 20 pessoas com conhecimento do caso, incluindo "individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja".

"Mais de metade das pessoas pessoalmente conhecem uma vítima dos abusos e outros têm conhecimento do caso. O De Groene Amsterdammer falou com outras vítimas que recusaram contar a sua história nos 'media'", refere a jornalista Tjirske Lingsma.

O jornal explica que as primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002, quando um timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.

Em novembro desse ano, Ximenes Belo anunciou a sua resignação do cargo, alegando problemas de saúde e a necessidade de um longo período de recuperação.

"Estou a sofrer de fadiga mental e física, o que requer um longo período de recuperação", referiu Ximenes Belo, num comunicado em que informava ter escrito à Santa Sé solicitando a renúncia do cargo de administrador apostólico de Díli, função que exercia desde 1983.

ASP // VQ

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