Xanana Gusmão chegou à aldeia de Becuse Kraik, na zona de Becora em Díli, ao início da manhã, quando equipas do Tribunal Distrital de Díli e efetivos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) já tinha retirado os pertences das famílias para o exterior das casas.

O líder da oposição timorense sentou-se no exterior de uma das casas, pertencente a Rosalina Alves, criticando o processo de despejo ordenado pelo Tribunal de Díli e afirmando que o pretendia impedir.

"Eu defendo o povo. O povo não entende estas leis", disse, aplaudido pelas famílias. "Vivem aqui há 46 anos. Os tribunais têm que ter em conta a humanidade, os direitos das pessoas."

"Eu não estou contra vocês", disse Xanana Gusmão, referindo-se para os oficiais de justiça. "Eu estou contra a decisão do tribunal".

Durante o protesto e apesar de insistência das autoridades presentes no local, Xanana Gusmão continuou a defender o direito das famílias, alegando que não se estava a fazer justiça e chegando mesmo a voltar a levar os pertences para dentro da casa.

Em causa está um caso que se arrasta há vários anos, com os alegados proprietários do terreno a terem chegado a um acordo com as sete famílias para o pagamento de uma compensação de dois mil dólares cada para abandonar as casas.

Com base nesse acordo, o Tribunal de Díli ordenou o despejo, que as autoridades tentaram executar hoje, alegando que as famílias aceitaram a compensação e que, por isso, deveriam sair das casas.

Manuel Tilman, advogado da família, disse à Lusa ter feito um primeiro recurso devido à ação de despejo e que hoje vai apresentar outro recurso "de embargo da ação executiva".

"Estas pessoas vivem aqui há 46 anos. Os terrenos foram-lhes cedidos pelo seu antigo dono, o senhor Vicente Vidigal. E o código civil refere que quem ocupa terra durante mais de 20 anos, se ninguém reclama, tem direitos", explicou.

"Supostamente uma das pessoas que agora diz que é dono do terreno trabalha no tribunal. Só fomos notificados no sábado de que iam executar o despejo no domingo. Eu disse que não podia ser no domingo e foram lá hoje", afirmou.

Os oficiais de justiça acabaram por abandonar o local ao inicio da tarde.

O caso evidencia as complexidades do tema das terras e propriedades em Timor-Leste, setor cuja regularização está por completar, com várias disputas pendentes, uma situação que afeta significativamente o desenvolvimento económico do país.

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