Erasmus é aquele acordo que assinas com o universo no qual aceitas perder tantos anos de vida no corpo quanto os que ganhas na cabeça. Trocas pedaços de fígado e pulmão por amigos de outros passaportes e histórias sem fronteiras.

Para ter a certeza que não perdia tempo em Erasmus com coisas supérfluas, só me matriculei numa cadeira, fui a duas aulas e a um exame. Não podia perder o risco de perder alguma festa por estar de ressaca de estudo. Quem é que vai perder tempo em Erasmus a ir a aulas de Marketing Internacional, quando pode estar numa festa a falar primeiro um inglês acanhado mas que — tequilla, tequilla, tequilla — fica rapidamente solto e até o espanhol, francês e italiano já saem quase como se fôssemos nativos? Quem é que vai desperdiçar horas de estudo em Economia III, quando pode estar a jantar com um russo comunista, um americano capitalista, um francês anarquista e chegarem à conclusão que o dinheiro é sempre importante porque dá para trocar por cerveja ou bilhetes de avião para se irem visitar uns aos outros depois de Erasmus? A verdade é que tudo o que é importante aprender em Erasmus não vem escrito no sumário de nenhuma aula.

Durante 6 meses, vivi numa residência com gente do mundo inteiro, fui a 5 ou 6 festas por semana, viajei para uma data de países, fiz amigos para a vida e conheci mais umas boas dezenas de pessoas incríveis. E, claro, também uma mão cheia de pessoas que fazem tanta falta ao mundo como faz o Bolsonaro — nada a fazer aí, Erasmus continua a ser uma amostra da humanidade. Aprendi a falar bem espanhol — via namorada espanhola que lá arranjei a meio —, abracei muitos franceses que afinal não são todos uns arrogantes insuportáveis, bebi uzo com os turcos, beijei checas e gregas, ri-me como se a minha vida dependesse disso — e até depende — e no fim chorei muito. No dia da despedida chorei tanto que considerei ter de construir uma barragem nos olhos para conseguir parar.

Desde aí, vemo-nos várias vezes por ano nos países uns dos outros; e no fim de semana passado fomos festejar os 10 anos de Erasmus a Brno e de como mudou as nossas vidas para sempre e para tão melhor. Valeu todos os anos de fígado e pulmão que perdemos, e ainda lá deixava o baço e o pâncreas se fosse caso disso.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

Erasmus: Fica aqui a sugestão óbvia para quem ainda for a tempo. Nem pensem duas vezes. Vão.

Também Tive um Pega Monstro: Sim, autopromoção. Perdoem-me. O livro “Também Tive um Pega Monstro” foi escrito por mim e trazido à vida pela equipa Revenge of the 90s. O texto está só mediano, mas prometo que as imagens estão incríveis. À venda em todo o lado a partir de 3 de Outubro.

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