Em Londres há cerca de um ano, Inês divide o seu tempo entre dois part-times: um ligado à área de cinema e outro à área da restauração. Antiga hospedeira, a emigrante portuguesa começa por dizer que não está a acompanhar o processo eleitoral a fundo, mas que sente que a própria imprensa britânica também não o está a fazer. “Estão tão distraídos entre o Donald Trump, e a Rússia, e os atentados terroristas que, para ser honesta, [sinto] que nem a imprensa inglesa está a acompanhar a campanha como costuma fazer”.

Ainda assim, quando questionada relativamente à sua perceção da forma como as pessoas estão a viver este período, Inês compara as eleições desta quinta-feira com o que aconteceu com “Hillary Clinton e Donald Trump” nos EUA, na perspetiva de que a escolha entre Theresa May (Primeira-ministra e candidata dos Conservadores) e Jeremy Corbyn (candidato dos Trabalhistas) será o “menor de dois males”.

“À partida, a Theresa May ganha”, mas Inês sente que não existe uma grande certeza de que esse será “o melhor caminho”. Excluindo o UKIP, a atual Primeira-ministra britânica é “a que tem uma política mais severa relativamente ao Brexit”, nomeadamente no que diz respeito à emigração, que quer ver reduzida “em dois terços, para além de não assegurar a estadia” dos atuais imigrantes, “para já”.

Contudo, a emigrante portuguesa refere que “as pessoas ficaram tão aliviadas por não ser o Boris Johnson a subir ao poder como Primeiro-ministro” que dão “algum desconto” a May porque “podia ter sido pior”.

Ainda assim, Inês considera que as situações vividas recentemente em Manchester e Londres prejudicaram a atual Primeira-ministra britânica. “Ela tem muito pouco carisma, muito pouca imaginação política, muito pouca presença e é muito pouco consistente”, diz-nos. E concretiza. “Quando ela chegou ao poder, muitas das pessoas que tinham votado contra o Brexit ficaram aliviadas por não ter sido” alguém ligado ao UKIP ou mesmo Boris Johnson. Contudo, na sua opinião, a líder dos Conservadores não tem mostrado consistência, uma vez que “vai alterando políticas, às vezes com uma diferença de dias; decidiu primeiramente que não iam haver eleições mas depois vamos ter eleições no final do dia; diz que talvez tenha de aumentar os impostos mas não traça um plano completo, quando o Corbyn tem um plano concreto que diz exatamente quanto é que vai aumentar, a quem e como, portanto ela é muito vaga”. Adicionalmente, o facto de não querer fazer debates também parece não abonar a seu favor. Por último, quando fala ao público, fá-lo “desajeitadamente”. “É um bocadinho como a Hillary Clinton: até pode ter experiência mas não cria vínculo” com as pessoas,diz-nos.

E mesmo assumindo que Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista e principal adversário de May nas eleições, não é um político muito eloquente ou com particular carisma, Inês dá como exemplo a situação em que Corbyn convidou Angela Merkl para um jogo de futebol ou o apoio que lhe é dado por figuras públicas como Banksy Lena Dunham (autora da série “Girls”) para justificar a sua popularidade (principalmente junto de um público mais jovem) e uma perceção pública diferente, quando comparada à da atual primeira-ministra.

Por tudo isto e devido ao facto do candidato do Labour ter assegurado os direitos aos atuais imigrantes no Reino Unido, Inês revela a sua preferência por Corbyn, apesar de se falar em “aumentos de impostos que não se vêm desde a Segunda Guerra Mundial”. No fundo, conta-nos, “a campanha dele é mais consistente”, ao passo que a de Theresa May “é um bocadinho vaga”.