O deputado comunista Jerónimo de Sousa, de cravo vermelho na lapela, aproveitou o discurso na sessão solene na Assembleia da República para evocar os "valores de Abril", mas fez igualmente uma série de avisos sobre os "tempos difíceis" que se vivem, rejeitando "receitas" como cortes de salários ou pensões no período pós-pandemia.

"Não o podemos aceitar", afirmou, depois de dizer que se vivem "tempos difíceis".

"Os que há pouco diziam que vivíamos acima das nossas possibilidades, estão de volta empolando dificuldades reais", com "as suas velhas receitas agigantando catastróficos cenários, para justificar o aprofundamento da exploração".

É, definiu Jerónimo de Sousa, "o discurso da inevitabilidade do corte dos salários, das pensões e dos direitos e a pensar manter intocáveis os seus instrumentos de exploração", algo que não se pode aceitar.

Para o líder dos comunistas, "não é inevitável que o surto epidémico se traduza em regressão na vida dos trabalhadores e povo", dado que a "resposta às dificuldades passa por valorizar salários e por políticas dirigidas à defesa e criação do emprego".

Jerónimo de Sousa afirmou que celebrar a data da queda da ditadura é também confiar que "o melhor do seu caminho histórico ainda está para vir e que, mais tarde ou mais cedo, a luta dos trabalhadores e do povo, a luta dos democratas, o concretizará na sua plenitude".

"E se há momento em que o 25 de Abril não pode ser apagado é este, para confirmar e reafirmar a importância do seu projeto libertador e a atualidade dos seus valores e dos seus ideais de liberdade, emancipação social e nacional", disse.

Para o secretário-geral do PCP, "são os valores de Abril que podem iluminar o caminho de Portugal" - "os valores da liberdade, da democracia, da natureza do Estado concebido para responder aos interesse e necessidades do povo e do pais", por oposição a um Estado como "instrumento para servir o capital e a exploração".

Jerónimo de Sousa contrariou ainda a ideia de que a pandemia de covid-19 atinge todos.

"Não, os portugueses não estão todos nas mesmas condições, não estão os que permanecem de cofre cheios e os que empobrecem trabalhando e se endividam. Os que estão em 'lay-off' e no desemprego. Os que trabalharam uma vida inteira e têm parcas reformas e pensões, porque sempre tiveram baixos salários. Não estão muitos pequenos e médios empresários", afirmou.

Depois de saudar quem, em tempos de confinamento, continua a trabalhar "nas fábricas e nos campos a assegurar que o país não pare", e em especial os profissionais de saúde, Jerónimo de Sousa recordou que foi da "Revolução dos Cravos" que nasceu esse "bem precioso" que é o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Foi "uma revolução que optou e decidiu criar esse bem precioso que hoje tanto valorizamos e que o surto epidémico tem mostrado indispensável - o nosso Serviço Nacional de Saúde que precisamos de valorizar e reforçar", disse.

E terminou o seu discurso com a frase: "Sim, que viva Abril sempre, agora mais que nunca."