Trata-se do oitavo Fórum Regional da União pelo Mediterrâneo (UpM), um encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros e em que estará hoje o chefe da diplomacia portuguesa João Gomes Cravinho.

Israel e a Autoridade Palestiniana fazem parte da UpM, mas Telavive cancelou na sexta-feira a presença em Barcelona depois de a agenda inicial do encontro ter sido alterada e ter passado a ter como ponto único “a situação crítica em Israel e em Gaza-Palestina, assim como as consequências na região”.

Telavive disse que UpM deveria ser “uma plataforma prática para fomentar a cooperação entre diferentes países em benefício de todos os povos do Mediterrâneo”, mas corre agora “o risco de a transformar noutro fórum internacional em que os países árabes criticam Israel”.

Este boicote frusta o objetivo do Governo espanhol, anfitrião dos fóruns da UpM, de fazer deste encontro uma plataforma de diálogo e de aproximação entre Israel e os países árabes, incluindo a autoridades palestiniana.

A decisão de Israel não estar em Barcelona coincidiu também com a visita do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, em conjunto com o homólogo da Bélgica, Alexander de Croo, na quinta e na sexta-feira, ao Médio Oriente, durante a qual ambos fizeram declarações que o Governo de Telavive considerou de “apoio ao terrorismo” do Hamas.

Sánchez e de Croo condenaram o ataque a Israel, em 07 de outubro, do grupo islamita radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e pediram a libertação dos reféns israelitas, mas criticaram Israel pelo desrespeito pelo direito internacional, “a matança indiscriminada de civis inocentes” palestinianos e a “inaceitável destruição de Gaza” na operação militar de Telavive das últimas semanas neste território.

O Fórum Regional da UpM é co-presidido pelo chefe da diplomacia da UE, o espanhol Josep Borrell, e pelo ministro da Jordânia Ayman Safadi, que disse no sábado que Israel “não quer falar nem ouvir”.

“Vemos Israel a atacar todos os que não concordam com eles – secretário-geral [das Nações Unidas] Guterres, [o chefe da diplomacia europeia] Josep Borrell -, qualquer pessoa que não esteja a subscrever a agressão israelita ou mesmo quem esteja a apelar a um cessar-fogo”, disse Ayman Safadi, questionado pela Lusa após um encontro, em Amã, com os homólogos português, João Gomes Cravinho, e eslovena, Tanja Fajon, em Amã.

O encontro de hoje, segundo o ministro jordano, “vai permitir uma conversa franca e aberta, entre vizinhos e parceiros, sobre como terminar esta guerra e responder ao impacto humanitário catastrófico” e debater como avançar para um plano para a paz na região “de uma vez por todas”, acrescentou Ayman.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português considerou “uma oportunidade perdida” o boicote de Israel à reunião da UpM, mas defendeu que não deve impedir o aprofundamento do “diálogo com os países árabes” em relação “ao ponto de chegada com o qual todos concordam, que é a solução de dois Estados, que vivem lado a lado e em paz e segurança”, disse à Lusa João Gomes Cravinho.

A solução de dois Estados [Israel e Palestina], sustentou, “é um objetivo que já não pode ser adiado”.

Fazem parte da UpM 43 países – os 27 da UE e mais 17 estados mediterrânicos da Europa, do Norte de África e do Médio Oriente, incluindo a Palestina, não reconhecido oficialmente como estado por todos os restantes.

A UpM foi criada em 2008 e é herdeira da Conferência Euro-mediterrânica, fundada em 2015 e conhecida como “processo de Barcelona”, tendo como objetivo fomentar a cooperação na região euro-mediterrânica.