"Quis saber quem sou, o que faço aqui" ouvia-se, pela voz de Paulo de Carvalho, na música que saia do altifalante colocado no topo da chaimite da Associação 25 de Abril que todos os anos marca o ritmo do Desfile Popular que desce a Avenida da Liberdade até ao Rossio para comemorar a Revolução dos Cravos.

Ao volante do símbolo da liberdade estava João Paralta, o condutor desta chaimite em todos os desfiles populares comemorativos do 25 de Abril realizados ao longo dos anos, que à agência Lusa admite sentir "o peso da responsabilidade", mas assegura que conduzir este tipo de veículos "já é como beber um copo de água".

"Já percorri Portugal de lés a lés, já fiz muitos quilómetros, já rodei quase todas as 82 chaimites que o Exército tem", conta.

João tem dificuldade em contabilizar quantos quilómetros já percorreu a conduzir estes veículos blindados - mas garante que foram muitos - e explica o porquê de estar tão familiarizado com este veículo: "fomos nós que as montamos ao princípio, quando fui com 14 anos para as Oficinas Gerais de Material de Engenharia, ou seja, as oficinas do exército".

Apesar de ter "as pernas dormentes porque uma condução reduzida não é a mesma coisa de uma condução normal", a meio da entrevista à agência Lusa, o condutor ainda emprestou o seu "quico" a uma senhora que lho pediu para tirar uma fotografia em frente à chaimite.

Não era preciso verbalizar porque os olhos não o escondiam, mas confessando-se orgulhoso por conduzir o símbolo da liberdade, João assumiu estar "até comovido".

"Se Abril já está cumprido? Umas vezes sim, outras vezes não, mas agora acho que já está no caminho certo com o atual governo", considerou.

O condutor de 58 anos ainda teve tempo de recordar o dia em que ficou sem travões numa chaimite no Porto, à entrada da ponte D. Luís e quando lhe perguntaram porque é que tinha as mãos sujas, João disse apenas "que eram ossos do ofício".

Se o deixarem, João pretende estar para o ano de novo ao volante do símbolo da liberdade no 25 de Abril, mas até lá tem mais viagens programadas em ações da associação.

Cerca de uma hora e meia depois de ter começado a viagem no início da Avenida da Liberdade, a chaimite parou no Rossio, paralelamente ao palco onde decorreram os discursos finais do desfile popular, e recebeu no seu topo dezenas de crianças, que à vez e com bandeiras e cravos, tiraram fotografias para comemorar a liberdade sem nunca terem conhecido a ditadura.