“Para mim, é um mistério absoluto de como há pessoas que fazem aquele tipo de serviço. Acho que isto é qualquer coisa que não tem nenhum tipo de escrúpulos, nem de sentido por parte de quem vende este tipo de serviço, que é todo irregular e ilegal”, disse José Miguel Trigoso à agência Lusa.

O presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa comentou desta forma ao acidente mortal ocorrido quinta-feira perto da cidade francesa de Lyon, em França, que fez 12 vítimas mortais, com idades entre os sete e os 63 anos, após um choque frontal entre a carrinha em que seguiam e um veículo pesado.

José Manuel Trigoso mostrou-se também incrédulo com o facto de hoje em dia ainda haver pessoas que compram este tipo de viagens, considerando que estas possuem “uma falta de noção tremenda dos riscos que correm”.

“Como é que uma pessoa se entrega na mão - numa viagem em que se correm sempre riscos, toda a gente sabe que uma viagem rodoviária tem sempre riscos - num esquema daqueles. Há carreiras autorizadas, com autocarros decentes devidamente preparados com custos semelhantes ou até mais baratos”, acrescentou.

José Miguel Trigoso avançou que esta situação não é “muito diferente daquela das pessoas que disponibilizam barcos para transportar os refugiados a atravessar o Mediterrâneo, mal comparado, mas no fundo, no fundo, é igual, é um aproveitamento”.

O presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa explicou ainda que o condutor em questão, um jovem de 19 anos, podia conduzir a viatura ligeira-mista, como qualquer outra pessoa, no entanto, frisou que, pelo que viu nas imagens televisivas, vinham 13 pessoas num veículo que, normalmente, só pode levar seis, no máximo nove.

“Para serem transportadas 13 pessoas, incluindo o condutor, primeiro de ter ser outro tipo de veículo e depois a carta que habilita a essa condução só pode ser tirada com 21 anos, é preciso outra formação”, explicou.

Alem disso, o veículo também trazia um reboque, para o qual é necessário ainda outra licença de condução, disse o mesmo responsável, explicando que o atrelado “altera de forma importante o comportamento do mesmo”.

“Está tudo mal desde o princípio. Eles não podem vender aquele tipo de serviço, nem sequer devem estar autorizados para fazer aquele tipo de transportes, é tudo irregular desde o início”, reiterou.

Em declarações à Lusa, o capitão Ricardo Silva, da GNR, avançou na necessidade de se redobrar a atenção e saber se este tipo de viagens - através de carros particulares sem as devidas condições de lotação - é uma nova realidade que está em desenvolvimento.

“É preciso estudar se o assunto se traduz ou não no nosso país. Saber ao certo o que se passou. Tanto quanto sabemos não há casos destes veículos e viagens no nosso país. Mas é preciso estar atento e também que este caso sirva para alertar as pessoas que queriam fazer alterações à lotação dos veículos – que são muito criteriosas em Portugal e com inspeções extraordinárias”, frisou Ricardo Silva.

O condutor da carrinha envolvida no acidente de quinta-feira passada, que provocou a morte de 12 portugueses, está hospitalizado numa unidade psiquiátrica e ainda não foi ouvido pelas autoridades.

O condutor de 19 anos, também português, sofreu uma fratura num pulso e é o único sobrevivente entre os ocupantes da carrinha envolvida no acidente, que ocorreu por volta das 23:45 de quinta-feira na estrada nacional N79, perto da cidade francesa de Lyon, na localidade de Moulins.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.