Em declarações à imprensa na sequência da apresentação do relatório de evolução do surto de covid-19 em Portugal, Graça Freitas esclareceu que apesar de ter sido equacionada uma cerca sanitária em Castro Daire, que conta com 64 casos, tal não será aplicado no imediato.

"Do acordo entre a autoridade de saúde que promoveu a avaliação do risco e a autarquia chegou-se à conclusão de que o que era preciso em Castro Daire era reforçar junto da população a necessidade de manter o distanciamento social e reforçar a necessidade de manter encerrados determinados estabelecimentos", disse a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas.

"Não havia justificação para fazer um cordão sanitário, impedindo pessoas de entrar e sair de Castro Daire, era apenas necessário reforçar a contenção: manter o distanciamento social e o encerramento de alguns estabelecimentos. Esse é o plano agora em vigor", acrescentou a responsável.

Todavia o evoluir da situação será acompanhado pelas autoridades de saúde e pela autarquia.

De referi que ontem o presidente da Câmara Municipal de Castro Daire manifestou-se favorável à implementação de uma cerca sanitária, uma vez que a pandemia está a ter “contornos bastante alarmantes”, disse.

Questionada sobre a situação nos lares do país, a diretora geral de saúde reforçou que essa é uma das principais preocupações das autoridades de saúde e que "desde o inicio saíram normativos, que são guias de boas práticas, que incidem sobre o preventivo e o proativo, estando bem estabelecido o que deve ser feito". Cabe depois, numa articulação entre as autoridades de saúde, as autoridades locais e os responsáveis dos lares, a aplicação destas medidas.

Na sequência da demissão do diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo Martins, por não concordar com os planos de transferência de serviços daquela unidade para o Hospital Santa Marta, a secretária de Estado da Saúde Jamila Madeira, também presente nesta conferência, foi hoje questionada sobre a possibilidade de todos os hospitais do país terem, a prazo, de conviver serviços de atendimento a pacientes covid-19 com o de pacientes que não estão infetados.

"É nossa intenção, no cenário que temos atualmente presente, manter ainda assim espaços livres de serem afetados por esta doença, mas o ajustar da evolução da pandemia é que nos permitirá avaliar essa situação", disse.

De referir que entretanto o Hospital Curry Cabral admitiu cancelar a transferência dos serviços de transplante hepático, devido ao abrandamento da evolução da covid-19. Também o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, garantiu ontem que a saída de serviços do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, por causa da pandemia da covid-19, só acontecerá “de acordo com a evolução do surto e se vier a ser necessário”.

Jamila Madeira destacou no início desta conferência de imprensa que a linha SNS24 está a dar resposta a 99% das mais de 15 mil chamadas diárias recebidas e com tempos de espera de um minuto.

“Hoje temos 99% dos atendimentos em mais de 15 mil chamadas diárias, com um tempo médio de espera inferior a 1 minuto, cerca de 59 segundos”, disse a governante.

Jamila Madeira referiu-se ainda à capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no âmbito da pandemia, sublinhando que a realização de testes diária.

“O SNS foi capaz de alargar substancialmente a rede e reforçar a capacidade laboratorial de realização de testes, superando os nove mil testes diários e sempre com fiabilidade e credibilidade indispensáveis à eficácia desta resposta. sempre, e isso é muito importante sublinhar, com a parceria do setor privado, universidades e setor científico”, notou.

A secretária de Estado da Saúde reconheceu que o confinamento imposto no período da Páscoa “é particularmente duro” e que será “certamente difícil” para as famílias não se reunirem nesta data, mas frisou que “vai valer a pena” e que não respeitar o isolamento “pode colocar em causa todo o caminho feito até aqui”.

Jamila Madeira deixou ainda um agradecimento a todos os profissionais de saúde do SNS, mas também a empresas, instituições, academia e pessoas individualmente, a quem reconheceu uma “onda socialmente responsável e empreendedora de todos os que “sentindo-se convocados para esta batalha têm dado o melhor de si, têm dito presente”.

Referiu ainda um processo de aprendizagem diário de trabalho em rede no SNS e uma capacidade de adaptação à realidade e de partilha de recursos.

“Estas dinâmicas têm sido ganhas neste contexto da pandemia. Estamos portanto a transformar para sempre e melhor o nosso SNS”, disse.

“Muito ainda há a fazer e seguramente sabemos que podemos melhorar. Aqui estamos, todos os dias, para responder por tudo e esclarecer com toda a informação disponível. Enquanto país temos sido capazes de antecipar, agir e reagir respondendo e enfrentando os desafios que se encontram e que foram sendo colocados. Neste período não podemos portanto perder a perspetiva do que já foi possível fazer, com o empenho de tanta gente”, afirmou ainda Jamila Madeira.

Outros dos temas abordados nesta conferência foi a alteração das diretrizes da DGS relativamente à utilização generalizada de máscaras, estando prevista a publicação de novas indicações nos próximos dias.

"A DGS tem sempre seguido aquelas que são as indicações da Organização Mundial de Saúde, que neste caso solicitou ao Centro Europeu de Controlo de Doenças transmissíveis um parecer que saiu há dois dias. O Programa Nacional de Prevenção das Infeções e Controlo de Antibióticos é um programa da Direção Geral de Saúde, que tem um diretor a quem obviamente também pedimos um parecer. O que vai sair muito brevemente vai ser o que diz o Centro Europeu de Doenças transmissíveis complementado e concretizado para a nossa realidade", disse Graça Freitas.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 435 mortes, mais 26 do que na véspera e 15.472 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 1.516 em relação a quarta-feira.

Dos infetados, 1.179 estão internados, 226 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 233 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado no dia 02 de abril na Assembleia da República.