Vershbow, que falava a um grupo de jornalistas europeus no Centro de Imprensa Estrangeira, do Departamento de Estado norte-americano, em Washington, recordou que após tomar posse, o Presidente dos EUA deixou muitas críticas à NATO e ao seu funcionamento, abrindo brechas com aliados importantes para a defesa comum.

"O Presidente Trump apresentou uma visão muito sombria e distópica do mundo, um mundo em caos, em que os nossos aliados tradicionais e parceiros comerciais eram vistos como uns ingratos que viviam à nossa conta e que se aproveitavam dos EUA", lembrou o embaixador.

Na altura, disse ainda Vershbow, Trump "apelidou a NATO de obsoleta e queixou-se sobre a injusta partilha de custos", apontando ainda que a Aliança "tinha um papel apenas marginal no combate ao terrorismo".

"Foi muito crítico em relação a aliados próximos dos EUA e parecia muito mais simpático para com o Presidente Putin e a Rússia, como bastião dos valores conservadores, e um aliado natural contra o Estado Islâmico e o politicamente correto", afirmou o embaixador, que ocupou o cargo na NATO até 2016.

No entanto, contrapôs, "hoje toda a gente está a dizer que a política de Trump quanto à NATO é de continuidade em relação à anterior administração".

"Olhando para o último ano, o pior não aconteceu. Os adultos na sala - [o secretário da Defesa Jim] Mattis, [o secretário de Estado Rex] Tillerson, [o conselheiro de segurança nacional, o general] McMaster e [o chefe de Gabinete John] Kelly - e o Congresso dos EUA controlaram os seus evidentes impulsos pró-Rússia e pressionaram por uma continuidade da liderança dos EUA na NATO", considerou o embaixador.

Por isso mesmo, diz, Trump "agora parece inclinado para destacar o que é positivo".

"Já não diz que a NATO é obsoleta e até puxou para si os méritos da modesta subida nos gastos da despesa dos aliados, ainda que talvez o Presidente Putin mereça mais crédito por isso", disse Vershbow, numa referência à anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, que levou a NATO a recomeçar a reforçar-se militarmente.

Para o embaixador Vershbow, a ações de Trump - bem como as suas palavras - "começam a refletir uma atitude mais 'mainstream' em relação à NATO". Entre elas, destacou o aumento das verbas dedicadas à Iniciativa de Dissusão na Europa, que pode chegar aos 6,5 mil milhões de dólares em 2019, tal como foi pedido pela administração ao Congresso dos EUA.

No campo militar, já estão posicionados no terreno "os quatro batalhões de defesa avançada" no Leste da Europa, "com os EUA na liderança do grupo de combate na Polónia".

"Estas unidades enviam uma mensagem forte de dissuasão aos russos, que é a de que se agirem agressivamente vão deparar-se com forças de todos os aliados e não apenas forças locais", explicou.

"As boas notícias para Trump é que os EUA não estão a assumir uma parte desproporcional do peso destas mobilizações. De facto, o Reino Unido, o Canadá e a Alemanha estão a liderar os batalhões nos estados do Báltico, com o reforço de uma dúzia de outras unidades de outros aliados", concluiu o embaixador.