No primeiro dia, a convenção aguentou-se distante do rótulo de ‘encontro das direitas’ a que tanto tentou fugir depois de uma semana mediática. Na Culturgest, em Lisboa, pouco vestida a rigor, sem tarjas ou cartazes a anunciar a conferência, numa sala demasiado pequena para tanta afluência, discutiu-se a mudança nos sistemas políticos, os jovens e a política, corrupção e economia. Nem mesmo a presença de figuras do Partido Social Democrata conhecidas pela oposição à atual direção de Rui Rio levou para o púlpito o terramoto de notícias que lá fora dava conta da possibilidade de um Congresso social-democrata extraordinário para destituir a atual liderança. Pedro Duarte não falou, Miguel Pinto Luz recusou contribuir para “divisionismos” no partido afirmando que “é extemporâneo falar num cenário que não está em cima da mesa”, e Miguel Morgado, mesmo provocado por João Miguel Tavares no painel em que participou e sucessivamente interrogado pelos jornalistas, não assumiu qualquer candidatura perante um cenário de eleições que não existia e que ainda não existe.

Mas o segundo dia da 1ª convenção promovida pelo Movimento Europa e Liberdade tinha Pedro Santana Lopes e Assunção Cristas como cabeças de cartaz. E estes são dois nomes que mudam a cintura política seja aqui, seja em qualquer lado. Os dois líderes partidários fizeram um apelo à união das direitas, a uma Geringonça pós-eleitoral em 2019, uma proposta que quase podia ter sido feita em uníssono.

“Neste ano eleitoral não podemos ignorar a realidade. Temos de derrotar a frente de esquerda e o Governo de António Costa. [...] Portugal precisa de voltar a ser um país normal”, disse Pedro Santana Lopes.

“Nós estamos convencidos de que Portugal não precisa de ser sempre pequenino. E estamos convencidos que Portugal não precisa de estar sempre na cauda da Europa e estar sempre na cauda dos países mais desenvolvidos quando nos comparamos com a OCDE e a fotografia é sempre triste para Portugal”, afirmou Assunção Cristas. “Agora, também estamos convencidos que não se vai lá com um Governo socialista, não se vai lá com o primeiro-ministro António Costa, não se vai lá com as esquerdas unidas”, apontou igualmente a democrata-cristã.

Críticas comuns e um mesmo apelo, premissa simples para partir daqui para aquilo que pode fazer com que uma conferência seja apelidada de ‘encontro das direitas’:

A “Aliança quer apresentar uma proposta simples, que os partidos que não estão envolvidos nessa solução inédita e de efeitos conhecidos no nosso país, admitam a constituição de uma grande aliança, um grande movimento de crescimento, liberdade e progresso”. Neste movimento “devem estar os partidos mais tradicionais já existentes, os que já se constituíram e aqueles que estão, porventura prometidos nascer”, apontou Santana Lopes.

Santana traçou dois cenários: uma “coligação pré-eleitoral com base nos resultados das europeias”, ou uma “coligação pós-eleitoral, com base nos resultados das eleições legislativas”. A primeira, assumiu desde logo, “não recolhe a preferência da Aliança”, destacou, apontando que, na sua opinião, também “não é viável no atual quadro por razões que parecem óbvias”.

“A opção que admitimos, ou seja, a de um acordo pós-legislativas pressupõe naturalmente o que parece muito difícil hoje em dia, mas que tem o nosso empenho. Que as forças do centro-direita assumam a vontade e o propósito de viabilizarem conjuntamente a formação de um Governo patriótico, que inicie um novo ciclo político, económico e social”, assinalou.

Mais tarde, o mesmo desejo, por outras palavras, por parte de Assunção Cristas.

“Nós queremos uma alternativa sim, mas uma alternativa de centro e de direita, não uma alternativa de esquerda”, vincou.

Foi com estas palavras que a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, considerou que “mais importante” do que ficar em primeiro lugar nas próximas legislativas é conseguir uma maioria de 116 deputados que viabilize um Governo.

“Neste momento, mais importante do que discutir quem é que fica em primeiro lugar nas eleições, e por essa razão passará a ser primeiro-ministro, ou primeira-ministra, é preciso discutir quem é que consegue juntar 116 deputados no parlamento, que em princípio virão de mais do que um partido”, assumiu Cristas.

“O que significa que, depois das eleições, naturalmente, assim o espero, se for possível juntarmos 116 deputados no espaço político centro-direita, com certeza que teremos todas as condições para governar o país e para conversarmos no sentido dessa governação”, afirmou.

À saída da convenção, ambos recusaram comentar o futuro do PSD. Não era preciso, já o tinham feito. Basta recuar até ao primeiro dia da convenção e às palavras de Miguel Morgado ao SAPO24. O deputado social-democrata pretende fundar um movimento que congregue a família não-socialista e que tenha como embrião o PSD, e compará-las às de Rio que sempre recusou que o partido assumisse o rótulo de direita, vincando a matriz social-democrata da fundação.

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As peças juntaram-se no último dia. Afinal a primeira convenção do MEL ainda foi a tempo de ser o ‘encontro das direitas’ e um pequeno comício da oposição ao PSD, não só do próprio partido, mas também da restante direita.