William Lacy Swing, diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM) declarou-se “chocado e preocupado” com os relatos de violência sexual e de género feitos por elementos rohingya recentemente chegados a Cox’s Bazar, no vizinho Bangladesh.

A OIM está a coordenar a resposta humanitária ao êxodo de cerca de 480.000 pessoas que chegaram a Cox’s Bazar em cerca de um mês, desde 25 de agosto.

Em comunicado, a agência especializada das Nações Unidas indicou que médicos da OIM têm tratado dezenas de mulheres que sofreram “violentas agressões sexuais” desde agosto, mas acrescentou que tais números representam provavelmente apenas uma “pequena parte” dos casos existentes.

Segundo Swing, “a violência e os abusos de tais proporções nunca são totalmente reportados”, mesmo em situações mais estáveis.

Estima-se que os rohingyas - uma minoria étnica não reconhecida pelas autoridades birmanesas - sejam cerca de um milhão, havendo entre 10.000 e 20.000 pessoas dessa etnia, exaustas, esfomeadas e por vezes feridas a franquear diariamente a fronteira para o Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo.

Perante a dimensão do êxodo, a ONU falou mesmo em “limpeza étnica”, tendo o Conselho de Segurança exigido, a 13 de setembro, à Birmânia medidas “imediatas” para fazer cessar a “violência excessiva” no estado de Rakhine.

Nos seus relatos, os refugiados descrevem massacres, incêndios de aldeias, torturas e violações coletivas.

A violência e a discriminação contra os rohingyas intensificaram-se nos últimos anos: tratados como estrangeiros na Birmânia, um país mais de 90% budista, são a maior comunidade apátrida do mundo.

Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).