“Considero [a sentença] ilegal, vergonhosa, simplesmente fascista. Creio que Vladimir Kara-Murza está a ser perseguido por razões políticas”, disse Navalny numa publicação divulgada nos meios de comunicação social pela sua equipa de colaboradores, em que expressou também “indignação”.

Detido em janeiro de 2021 após regressar da Alemanha, onde recuperou de uma tentativa de envenenamento que atribuiu ao Kremlin, Alexei Navalny, opositor e ativista anticorrupção, foi condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de fraude registado em 2014 e que denuncia igualmente como político.

Navalny, 46 anos, que foi sentenciado, novamente, a mais oito anos de prisão, cumpre a sua pena na região de Vladimir, a uma centena de quilómetros de Moscovo.

A justiça russa considerou hoje Kara-Murza culpado de “alta traição”, de espalhar “informações falsas” sobre o exército russo e de trabalho ilegal para uma “organização indesejável”.

O opositor foi condenado a uma pena cumulativa de 25 anos numa colónia penal, que implica condições de prisão mais rígidas.

Kara-Murza negou as acusações, que considerou de cunho político, e comparou os processos judiciais que enfrenta aos julgamentos durante o Governo do ditador soviético Josef Estaline.

As acusações contra Kara-Murza, 41 anos, também estão relacionadas ao discurso que realizou em 15 de março de 2022 na câmara dos representantes do Arizona, Estados Unidos, em que denunciou a guerra desencadeada pela Rússia na Ucrânia.

Os investigadores russos acrescentaram a acusação de traição quando o opositor já estava sob custódia, depois de ser detido a 11 de abril de 2022.

Entretanto, em Washington, Vadim Prokhorov, advogado de Kara-Murza, defendeu que a condenação é “uma vingança política” que “nada tem a ver com a justiça”.

“A acusação nada teve a ver com justiça desde o início. É apenas uma vingança política contra Vladimir [Kara-Murza] que é um prisioneiro político. Não há dúvida quanto a isso”, frisou Prokhorov.

Já Evguenia Kara-Murza, mulher do opositor e que reside habitualmente nos Estados Unidos, expressou orgulho pela “coragem, consistência e honestidade” do marido e comprometeu-se a estar “sempre” ao seu lado.

“Um quarto de século é um 5+ [nota máxima no sistema de ensino russo] pela coragem, consistência e honestidade no teu trabalho ao longo de muitos anos. Estou infinitamente orgulhosa de ti, meu amor, e estarei sempre ao teu lado”, escreveu Evguenia na sua conta pessoal na rede social Twitter.

“Em geral, tem sido claro desde 2015 que [Vladimir] não estava apenas a enfrentar uma possível sentença de prisão. Há uma ameaça muito real para a sua vida”, referiu ainda Evguenia.

A condenação de Kara-Murza foi criticada por vários países e organizações internacionais, como os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Nações Unidas, União Europeia (UE) e Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entre outras instituições, que exigiram a libertação imediata do crítico do Kremlin.