“Consideramos que a posição do Sr. presidente da LBP [Liga dos Bombeiro Portugueses] não está focada na profunda reforma que o país tem de fazer para construir soluções estruturais de resposta ao problema de fundo do planeta: O aumento da severidade e frequência dos incêndios como uma das consequências das alterações climáticas”, afirma o presidente Conselho Executivo da CPADA, José Manuel Caetano numa carta aberta.

Na missiva dirigida ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República, a confederação salienta que foi com “perplexidade” que tomou conhecimento do pedido de demissão e ameaça de queixa-crime da LPB contra a Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), na sequência das declarações do seu presidente no parlamento sobre o relatório de atividades do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.

Na terça-feira, a LBP disse estar a avaliar a apresentação de uma queixa-crime contra o presidente da AGIF, Tiago Oliveira que, em 27 de julho, afirmou perante a comissão parlamentar de Agricultura e Pescas que há municípios a gastar meio milhão de euros nos bombeiros, “quando não gastam dinheiro a gerir a floresta”, sendo necessário equilibrar a prevenção e o combate.

Para a Liga, Tiago Oliveira já teve “tempo suficiente para se justificar perante os portugueses pelas informações falsas que produziu acerca dos bombeiros”.

Para a CPADA, a dimensão dos desafios com que o país está confrontado nas próximas décadas “não é compatível com este aparente conflito circunstancial”, pelo que, apela para uma reflexão serena, à renovada emergência da ação climática e ao respetivo financiamento plurianual de prevenção e combate aos fogos rurais.

“Não é altura de divisões desta natureza. A sustentabilidade, enquanto superior interesse nacional, requer um esforço de diálogo institucional, uma energia coletiva que não pode dispensar ninguém”, defende a confederação.

Na carta aberta hoje divulgada, a CPADA garante ter confiança no trabalho das instituições como a AGIF, LBP, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), e sublinha que “a estratégia de redução das emissões para atingir a neutralidade carbónica até 2045 exige uma ação consequente, com investimento público e privado eficiente”.

“A nossa floresta – o nosso território – não podem ser reduzidos a uma disputa institucional”, insiste a CPADA, defendendo que “o sobressalto técnico, cívico e independente para o qual a AGIF convoca tem de estimular um consenso nacional, regional e sub-regional que assente no melhor conhecimento e qualificações disponíveis”, ao qual a agência “tem dado resposta, sem descurar a proximidade dos cidadãos”.

“Para sermos mais eficientes coletivamente, temos de nos sentar à mesa, deixar de lado queixas-crime e declarações menos felizes: a bem do futuro do nosso país e das próximas gerações”, remata.

As declarações do presidente da AGIF motivaram ainda críticas da Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários (APBV) e da Associação Nacional de Municípios Portugueses, entre outras associações de autarquias.