“Há falha de liderança e um colapso completo do sistema de direitos humanos na União Europeia”, criticou o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty, no decorrer de uma conferência em Lisboa, organizada pela Amnistia Internacional sobre a crise global dos refugiados.

Na opinião daquele responsável, a União Europeia “considera-se a campeã dos Direitos Humanos” e tem dado lições sobre a matéria a todos os países do mundo, já que esta é uma questão que está no seu “tecido de fabrico”.

“Mas o que se vê é uma União Europeia profundamente dividida, em que só os países de fronteira é que estão a lidar com o problema”, apontou Salil Shetty.

Criticou, por outro lado, o facto de haver países europeus que estão a expulsar os refugiados, exemplificando com a Hungria, que gastou cerca de 15 milhões de euros numa campanha contra a entrada de refugiados no país, dinheiro que poderia ter usado para acolher os migrantes.

Já no que diz respeito a Portugal e ao trabalho de acolhimento que tem vindo a ser feito, Salil Shetty apontou que o país recebeu cerca de 700 refugiados recolocados, “o que é pouco, mas melhor do que nada”.

“Mas o problema não é só trazer as pessoas. Elas precisam de um sistema de reintegração a funcionar”, defendeu, lembrando as histórias do líbio Saad Howaiw e do sírio Ahmad Omar, presentes na conferência para darem conta das suas dificuldades ao nível do acolhimento.

Ahmad Omar deixou Damasco, capital da Síria e sua cidade natal, porque queria poder continuar a estudar. Voou para a Turquia, fez uma viagem de barco de cinco horas até à Grécia e de lá veio para Portugal com a promessa de uma casa e acesso à universidade. Hoje, trabalha para a Netflix, mas continua sem conseguir concluir os estudos.

Já o líbio Saad Howaiw vive em Portugal desde agosto de 2015, para onde veio com um visto de estudante. Como não tinha dinheiro para pagar as propinas, optou por procurar emprego, o que fez com que perdesse o visto de estudante. Por outro lado, para conseguir trabalho precisava de estar inscrito na Segurança Social, mas para poder fazer descontos tinha de ter um contrato.

Por causa destas e de outras histórias, o secretário-geral da Amnistia Internacional disse esperar que Portugal, “que tem uma história de integração no resto do mundo, mostre solidariedade, tal como mostraram para com ele em tempos mais difíceis”.

“Acho que está na altura de haver esse sentimento de reciprocidade e acho que é uma boa altura para Portugal se mostrar e ser um modelo para o resto do mundo”, defendeu.

A conferência serviu igualmente para a Amnistia Internacional apresentar formalmente a campanha global que vai levar a cabo para os próximos três anos e que se chama “Eu acolho os refugiados”.

“Um dos grandes suportes será efetivamente uma petição, um manifesto, ou seja, aquilo que esperemos que seja o compromisso de uma boa parte da população em relação ao acolhimento dos refugidos”, explicou Daniel Oliveira, diretor das campanhas da Amnistia para Portugal.

Com esta campanha, a Amnistia Internacional pretende que seja dada “uma resposta digna a esta crise”, o que passa por uma maior partilha de responsabilidades entre os países que acolhem, criação de rotas seguras, reunificação das famílias e atribuição de vistos médicos.

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