O presidente do Chega, André Ventura, decidiu retirar Maló de Abreu das listas do partido a candidatos a deputados nas eleições legislativas de março, avançou a SIC, mas em comunicado à Lusa, Maló de Abreu anunciou que desistiu de integrar as listas do Chega às legislativas de 10 de março, na sequência da polémica com a sua residência em Luanda.

"Comuniquei a quem de direito que não integrarei as listas do Chega, nem serei candidato a deputado. Porque sou um homem livre e dono do meu destino", sublinha Maló de Abreu numa declaração escrita enviada à agência Lusa.

Na missiva, enviada à Lusa, Maló de Abreu assegura que a sua vida profissional "passou e passará por Luanda" e que o seu “círculo afetivo, pessoal, familiar e social estão em Angola”, rejeitando ter recebido quaisquer subsídios abusivamente.

“Deixei de fazer vida em Portugal, estando praticamente apenas e só em Lisboa porquanto os trabalhos parlamentares a isso me obrigam. E mais: nasci em Angola, vivi e vivo em Angola, onde nasceram o meu pai e avós, os meus irmãos e sobrinhos, e os meus netos também”, refere, acrescentando que tem dupla nacionalidade “há tempo bastante para ser cidadão angolano, com casa e morada em Luanda e na plenitude de todos os direitos inerentes”.

"Ter a minha casa e morada em Luanda, como deputado eleito pelo círculo de Fora da Europa, não acrescentou à minha conta um cêntimo a mais ao que já recebia anteriormente, com residência no continente português", aponta.

O deputado faz uma longa exposição, ao longo de 11 pontos, indica que se tratou de uma decisão sua, justificada com "uma postura de decência na vida pública e política".

"Não vivo da política, nem preciso da política para viver", salienta.

À Lusa, o presidente do Chega indicou ter transmitido a António Maló de Abreu que "já não havia condições" para continuar nas listas de candidatos e que "ele aceitou".

Questionado sobre a posição de Maló de Abreu que se tratou de uma decisão pessoal, André Ventura respondeu: "Houve consenso, ele já sabia da minha decisão".

Na nota enviada à Lusa, Maló de Abreu indica também que "tudo fizeram e fazem" - porém sem identificar a quem se refere - para que "deixe de ser uma solução, de mudança e de esperança, através do Chega, para os portugueses que vivem no mundo".

"Para passar a ser um problema - com que quem me convidou tem agora de lidar. E eu não permitirei que isso aconteça", continua.

Maló adianta que não passou a receber mais do que recebia quando alterou a morada para Angola no início da legislatura e diz ter direito a deslocações às comunidades portuguesas dos países do círculo pelo qual foi eleito, apontando que em 2022 não chegou “sequer a esgotar a verba legalmente atribuída para o efeito”.

Quanto às viagens a casa a que tem direito, que diz serem duas por mês, “foram sempre marcadas através do secretariado do Grupo Parlamentar do PSD” e “compradas diretamente pelos serviços próprios da Assembleia da República”, acrescenta.

Maló de Abreu agradeceu ao líder do Chega o convite para integrar as listas e aponta que André Ventura e os dirigentes do partido tiveram consigo “uma atitude de grande consideração e respeito”.

O deputado adianta também que irá mover uma ação judicial por “danos irreparáveis” ao seu “bom nome e reputação”.

A decisão surge na sequência da polémica criada após uma notícia na revista Sábado, onde Maló de Abreu é suspeito de ter alterado a sua residência de Coimbra para Angola, recebendo assim 75 mil euros em subsídios e ajudas de custo. A Sábado noticiou que, apesar de ter residência em Luanda, Maló de Abreu viveu “maioritariamente entre Lisboa e Coimbra” ao longo desta legislatura.

Na quinta-feira, o presidente do Chega já tinha levantado a possibilidade de excluir o antigo deputado do PSD. André Ventura sustentou que “qualquer pessoa que beneficie indevidamente de fundos do Estado, tentando ludibriar ou criar fraude à lei, não pode ser candidato pelo Chega”.