António Costa reagiu esta quarta-feira às declarações muito polémicas do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem. Para o Primeiro-ministro, Dijsselbloem já deveria ter sido demitido porque "não é possível que quem tem uma visão xenófoba, racista e sexista possa exercer funções de presidência de um organismo como o Eurogrupo".

"A Europa só será credível com um projeto comum no dia em que o senhor Djisselblom deixe de ser presidente do Eurogrupo e haja um pedido de desculpas claro, relativamente a todos os países e povos que foram profundamente ofendidos por estas declarações", acentuou Costa, em declarações feitas à margem da segunda edição do Football Talks, que decorre no centro de congresso do Estoril até 24 março.

Sem poupar palavras, Costa disse que "absolutamente inaceitável" que Dijsselbloem continue em funções. "Estas declarações do senhor Jeroen Dijsselbloem são absolutamente inaceitáveis. São também muito perigosas, porque demonstram bem qual é o perigo do populismo e que o populismo não está só naqueles que tem coragem de assumir que o são. Está também naqueles que aparecem com pele de cordeiro, porque fazem discursos que são racistas, xenófobos e sexistas, como o discurso do senhor Dijsselbloem", sustentou. "Consideramos que a Europa não se faz com 'Dijssebloems'. Faz-se com os que acreditam na igualdade, se respeitam uns aos outros", acrescentou.

António Costa disse preocurar-se com "as muitas ameaças" na Europa, apelando à união entre os povos europeus.

"Nós estamos hoje confrontados na Europa com muitas ameaças e a estas ameaças devemos responder com mais unidade europeia. A unidade não se constrói estigmatizando uns contra os outros e criando novas divisões, mas pelo contrário, respeitando-nos e fazendo um esforço de grande unidade", declarou.

De acordo com o líder do executivo, Portugal "não tem lições a receber do senhor Dijsselbloem em coisa nenhuma", já que o país "cumpriu escrupulosamente os seus compromissos com a União Europeia, com o défice mais baixo de 42 anos de democracia".

António Costa deixou ainda um recado a todos "aqueles que acreditam no projeto europeu".

"A Europa faz-se com aqueles que acreditam na igualdade dos povos, aqueles que se respeitam uns aos outros, aqueles que admiram um esforço extraordinário de países do norte da Europa que tiveram depois da guerra e que também respeitam o esforço dos países do sul da Europa, que têm feito nos últimos anos para conseguirem corrigir as situações das suas finanças públicas", declarou.

A terminar, o primeiro-ministro lembrou que "o euro está ainda sob muitas ameaças e que é necessário estabiliza-lo para completar a união económica monetária".

Dijsselbloem manifestou-se surpreendido 

Dijsselbloem manifestou-se surpreendido por as suas palavras – proferidas numa entrevista concedida ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung publicada na segunda-feira – terem tido tanta repercussão nos meios de comunicação social.

“Não, não, eu sei o que disse porque saiu da minha própria boca”, afirmou o político holandês, em resposta a um pedido do eurodeputado espanhol dos Verdes, Ernest Urtasun, para que se desculpasse pelo comentário durante uma audição de uma comissão parlamentar.

“Deixei muito claro que a solidariedade caminha de mãos dadas com a responsabilidade e os compromissos”, afirmou. O também ministro das Finanças da Holanda insistiu que os Estados-membros devem assumir o quadro fiscal que acordaram e realizar reformas e ajustes de forma a garantir uma “posição sólida”.

“Durante a crise do euro, os países do norte mostraram solidariedade com os países afetados pela crise. Como social-democrata, atribuo uma importância extraordinária à solidariedade. Mas também deve haver obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda”, afirmou na entrevista Jeroen Dijsselbloem, que tem sido alvo de críticas em diferentes frentes.

As declarações foram consideradas “vergonhosas” e “chocantes” pelo grupo dos Socialistas Europeus – ao qual Dijsselbloem pertence – que entende que o presidente do Eurogrupo “foi longe demais, ao utilizar argumentos discriminatórios contra os países do sul da Europa”.

Em Portugal também houve reações, com o PS a pedir ao Partido Socialista Europeu (PSE) a condenação “imediata” das declarações “ultrajantes” proferidas por Jeroen Dijsselbloem e a retirada de apoio político a uma sua recandidatura ao cargo de presidente do Eurogrupo. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, pediu em Washington o afastamento do presidente do Eurogrupo.

Esta nova polémica a envolver Dijsselbloem ocorre numa altura em que a sua posição como presidente do Eurogrupo está particularmente fragilizada, na sequência dos resultados eleitorais da passada semana na Holanda, que ditaram uma derrota histórica do seu partido, o PvdA, que era parceiro de coligação do VVD (centro-direita) do primeiro-ministro Mark Rutte, mas que agora passou de 38 para nove deputados.