A associação foi criada por portugueses que “achavam que era importante que a memória da emigração portuguesa fosse recolhida, trabalhada e divulgada”, disse à Lusa Ilda Nunes, presidente da associação.

“Os portugueses de França são invisíveis talvez porque não fazem distúrbios como outros, mas o português foi sempre visto como um trabalhador que aceita tudo e mais alguma coisa e não contesta. Não é o caso de todos os portugueses, mas foi o caso de muitos, muitos portugueses”, explicou a dirigente associativa.

Ilda Nunes, que chegou a França com 15 anos em 1966, contou que a associação tem lutado para dar a conhecer a história da emigração portuguesa, já que “os portugueses são muito numerosos em França e trabalharam para a reconstrução da França e da sua economia”.

A associação tem recolhido e continua a recolher, testemunhos de pessoas que emigraram para França “a salto”, por exemplo, entre os anos 50 e os anos 70, estando esses testemunhos visíveis na página internet http://www.memoria-viva.fr/ e na página http://www.sudexpress.org/.

Entre os membros fundadores da associação está o cineasta José Vieira que teve a ideia da plataforma virtual Sudexpress depois de se aperceber, após a realização do filme “La Photo Déchirée” [“A Fotografia Rasgada”], em 2001, que não existia “nenhum local especificamente consagrado à história e à memória da e/imigração portuguesa”.

“Quando fiz o filme La Photo Déchirée, nessa altura, houve muitos debates sobre o filme e havia gente que não fazia ideia do que foi a história dos pais. Recebi imensas mensagens de agradecimento por falar disso. Havia um vazio total, um vazio sideral à volta disto, e era preciso fazer algo pela memória. A ideia era fazer escrever essas memórias pelas próprias pessoas. Hoje já há um reconhecimento desta história e vários projetos sobre o tema”, disse à Lusa José Vieira.

Nasceu, então, o Sudexpress, um espaço virtual – sonoro e visual – para recolher e transmitir essas memórias e também para as contextualizar, tendo o projeto sido apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e, depois, adotado pela Memória Viva e colocado online em 2006.

Na plataforma há narrativas de viagens, recordações dos primeiros tempos passados em França, relatos da e/imigração e até “um abecedário do “frantuguês” – conjunto de palavras e de expressões que os portugueses foram buscar à língua francesa e que pronunciam à portuguesa”.

A 19 de junho, a associação depositou um fundo de arquivos sobre a memória da emigração portuguesa na Bibliothèque de Documentation Internationale Contemporaine, um centro de arquivos especializado na história do século XX e ligado à Universidade Paris-Nanterre.

Ao longo dos anos, a Memória Viva tem apoiado vários projetos, como a publicação do livro “Exílios, testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)” da Associação dos Exilados Políticos 1961-1974 (AEP 1961-74) e o projeto fotodocumental “E-Migras?”, da fotógrafa Rose Nunes, que cruza emigrantes antigos com emigrantes de hoje.

A associação também organiza projeções de cinema e debates, na presença de realizadores e especialistas da emigração.

A Memória Viva está, atualmente, a trabalhar na criação de uma mala com documentos audiovisuais para levar às escolas e “falar da emigração portuguesa, da história de Portugal antes e depois de 74, da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial” em França.

Ilda Nunes, que é também professora de português e de francês em Paris, disse que “há 15, 20 anos” os seus alunos “tinham vergonha de serem de origem portuguesa” e “hoje em dia já não e reivindicam as origens portuguesas”.

A associação venceu o Prémio Cap Magellan do Melhor Projeto Associativo, a 14 de outubro, na gala de homenagem à primeira República portuguesa no Hôtel de Ville, em Paris, e o prémio de 1.500 euros vai servir para ajudar a montar a exposição “Refuser la guerre coloniale” [“Rejeitar a guerra colonial”] prevista para 2019 na capital francesa.

A exposição vai juntar documentos de arquivo, fotografias, cartazes da época e testemunhos de desertores, refratários e outros que fugiram de Portugal para França para não irem para a Guerra Colonial na Guiné-Bissau, Angola e Moçambique entre 1961 e 1974.

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