Nos últimos dias, escritórios da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) têm sido alvos de protestos por parte de imigrantes que se queixam de atrasos de anos dos seus processos e para o próximo dia 27 já está prometida uma nova ação na delegação do Porto.

“Todos os dias somos chamados por causa dos problemas dos serviços”, afirmou o líder da Associação de Apoio a Imigrantes e Refugiados em Portugal, Amadou Diallo.

Imigrantes a dormirem nas ruas é um cenário cada vez mais frequente, admitiu Amadou Diallo, dando o exemplo de duas dezenas de senegaleses que chegaram há poucos dias a Lisboa e montaram uma grande tenda junto à sede do antigo Alto Comissariado para as Migrações.

“Ninguém fala com as associações, sentimos que as coisas estão a mudar em Portugal e que os imigrantes começam a ser criticados, quando a culpa é de quem não trata dos papéis”, acrescentou Diallo.

Posição semelhante tem Alam Kazoi, dirigente da Comunidade Bangladesh do Porto. “Os imigrantes estão muito preocupados. Portugal foi um país acolhedor, nenhum país da Europa facilitou tanto como Portugal no acolhimento”, mas “agora há um discurso anti-imigrantes”.

“Há uma parte de portugueses que está preocupada com os imigrantes”, porque “a questão da habitação, os preços, são problemas que preocupam as pessoas”, acrescentou o dirigente.

Por outro lado, os imigrantes que chegam a Portugal já não têm a mesma facilidade em obter emprego como no passado. “Agora as coisas estão mais difíceis”, reconhece.

As eleições mostraram que “Portugal começa a olhar para os imigrantes com outros olhos”, pelo que Alam Kazoi espera que as “regras comecem a ser mais apertadas”, num futuro próximo.

A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma, espera que o futuro governo tenha “uma grande capacidade de diálogo, de auscultar quem está no terreno e de construir consensos num assunto que é facilmente politizado, mas que não pode ser”.

“As pessoas têm o direito a emigrar e a não emigrar” e as políticas públicas exigem uma “grande articulação” para responder às necessidades concretas dos cidadãos.

“Não podemos cair no erro fácil de colocar o imigrante como um bode expiatório”, acrescentou Eduarda Quaresma.