De acordo com Anderson, professor do departamento de Ciência Política da Universidade de Buffalo, em Nova Iorque, embora os eleitores possam ter ficado desapontados por o atual favorito dos Republicanos ter optado por ficar fora do debate, a sua ausência permitiu que os restantes candidatos discutissem as suas posições sem serem ‘atropelados’ por Trump.

À Lusa no final do debate, que decorreu na noite de quarta-feira no estado do Wisconsin, Anderson afirmou que, dos oito candidatos presentes, apenas dois saíram vencedores: a ex-embaixadora norte-americana junto da ONU Nikki Haley – a única mulher na disputa – e o ex-governador de Nova Jérsia Chris Christie, um duro crítico de Trump.

“Chris Christie teve um bom desempenho. Ele citou muito a sua experiência anterior como advogado e governador. O seu objetivo de se estabelecer como moderado ‘não-Trump’ parecia dar certo, à medida que ele insistia continuamente na importância de se deixar cair Trump. Várias das suas posições políticas foram recebidas com desaprovação pela multidão, por isso veremos se o seu desempenho pode traduzir-se num aumento nos números das sondagens”, avaliou o professor.

Um dos momentos mais tensos do debate foi precisamente quando Christie foi fortemente vaiado por dizer que Trump violou a Constituição norte-americana, quando tentou reverter a sua derrota nas presidenciais de 2020 e incitou os invasores do Capitólio.

Em relação a Nikki Haley, o analista considera que a antiga governadora da Carolina do Sul começou o debate tranquilamente, mas tornou-se mais presente à medida que o debate avançava, atingindo o seu ponto alto em temas como o aborto e a política externa.

“A sua política de aborto era pragmática — ela sabe que os Republicanos estão, em geral, do lado errado da opinião pública quando se trata de aborto. O aborto já esteve em votação durante as eleições intercalares de 2022 e isso afetou os Republicanos. Haley também elaborou uma política externa forte em relação à Ucrânia e à China, que contrastou com alguns dos seus colegas em palco. Ela provavelmente não obterá muito apoio com isso, mas mostrou que merece ser considerada uma candidata séria”, defendeu.

Em relação aos vencidos da noite, Collin Anderson, na contramão de muitos analistas e eleitores Republicanos, considera que o empresário de biotecnologia indiano-norte-americano Vivek Ramaswamy integra essa lista.

“Ramaswamy entrou como terceiro preferido entre os eleitores Republicanos, mas a sua participação neste debate não lhe vai render qualquer apoio dos Republicanos moderados ou dos independentes”, apontou o professor universitário.

“Até mesmo o público presente começou a voltar-se contra as respostas de Ramaswamy em certos momentos. Embora tenha começado forte, Ramaswamy vacilou à medida que a noite avançava. Ele parecia estar a debater-se enquanto outros candidatos começavam a amontoar-se sobre ele”, observou.

Ao longo de todo o debate, o empresário de 38 anos reforçou a sua posição como um forte defensor de Trump, o que lhe pode valer pontos junto da ala mais conservadora do partido.

Outro dos derrotados da noite foi, para Anderson, o segundo classificado nas sondagens e governador da Florida, Ron DeSantis.

“DeSantis precisava de usar este debate para realmente destacar-se da multidão. Infelizmente, o seu desempenho no debate não vai ajudar nessa causa”, para relançar a sua campanha, frisou.

Ao longo do debate, DeSantis recusou-se a responder diretamente a perguntas simples e acabou por ser ofuscado pela ausência de Trump, que prometia colocar a pressão e os holofotes sobre o governador da Florida, mas que acabou por não acontecer.

Entre os vencidos da noite ficaram ainda o ex-governador do Arkansas, Asa Hutchinson, e o senador da Carolina do Sul Tim Scott, segundo o analista.

“Tim Scott e Asa Hutchinson não fizeram quaisquer movimentos significativos para se distinguirem dos outros candidatos. A menos que façam algo em breve, as suas campanhas terão dificuldade em continuar”, disse à Lusa.

Já entre os candidatos que ficaram num patamar mediano estão o ex-vice-presidente de Trump, Mike Pense, e Doug Burgum, um rico ex-empresário do ramo de ‘software’ agora no seu segundo mandato como governador do Dakota do Norte.

Para Collin Anderson, “realisticamente, este debate tornou-se uma entrevista de emprego para quem quer que seja o vice-presidente de Trump”.