Um dos candidatos que mais criticou as ausências consecutivas de Trump em debates presidenciais foi o ex-governador de Nova Jérsia, Chris Christie, que acusou o líder nas sondagens de “ter medo” de defender o seu histórico.

“Quero olhar para aquela câmara agora e dizer: Donald, sei que está a ver-nos. Não consegue evitar. (…) Você não está aqui esta noite, não por causa das sondagens e não por causa das acusações criminais. Não está aqui esta noite porque tem medo de subir no palco e defender o seu histórico. E deixe-me dizer o que vai acontecer: continue a fazer isso e ninguém aqui vai chamá-lo de Donald Trump. Vamos chamá-lo de Donald Duck [Pato Donald]”, disse Christie, num dos momentos mais insólitos da noite.

Christie fez uma provocação semelhante no início do debate, afirmando que o ex-presidente “se esconde atrás dos seus tacos de golfe”. Mas, já no final da noite, o ex-governador foi mais longe e acusou Trump de ”não só dividir o partido, como também de dividir famílias por todo o país”.

As criticas de Christie foram rapidamente apoiadas pelo principal rival de Trump dentro do partido, o governador da Florida, Ron DeSantis, que está em segundo lugar nas sondagens.

“Onde está Joe Biden? Ele está completamente ausente da liderança. E sabe quem mais está a faltar em ação? Donald Trump está desaparecido em ação. Ele deveria estar neste palco, esta noite, a explicar o seu histórico, no qual adicionou 7,8 biliões de dólares [7,4 biliões de euros] à dívida, o que preparou o cenário para a inflação que temos”, atirou DeSantis, numa mudança radical em relação à sua postura no primeiro debate, mostrando um maior contraste com Trump.

No total, sete candidatos do Partido Republicano enfrentaram-se na noite de quarta-feira na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Simi Valley, na Califórnia, para um evento organizado pela televisão Fox Business Network.

Além de DeSantis e de Chris Christie, os candidatos presentes no palco foram o ex-vice-presidente Mike Pence, o empresário Vivek Ramaswamy, o senador da Carolina do Sul Tim Scott, a antiga embaixadora norte-americana nas Nações Unidas Nikki Haley, e o governador de Dakota do Norte Doug Burgum.

Num debate caótico – marcado por sobreposições de discursos e elevação do tom das vozes – que se prolongou por cerca de duas horas, Joe Biden foi criticado em diversas ocasiões e por vários motivos, desde a proteção das fronteiras até à sua política económica.

Tim Scott criticou a presença de Biden no piquete de greve dos trabalhadores do setor automóvel na terça-feira.

“Ele deveria estar na fronteira sul, trabalhando para fechar a nossa fronteira, porque é insegura e aberta, levando à morte de 70 mil americanos nos últimos 12 meses por causa do fentanil. É devastador”, disse o senador.

Mike Pence aproveitou a deixa e declarou que o chefe de Estado “não devia estar na linha do piquete, mas na fila de desemprego”, arrancando risos da plateia.

Já Haley argumentou que os trabalhadores do setor automóvel estão em greve porque as políticas inflacionárias de Biden os forçaram a exigir salários mais elevados.

Nikki Haley, filha de imigrantes indianos, criticou ainda o Governo Biden pela sua forma de lidar com a imigração, dizendo que o Presidente “agitou a bandeira verde” para aqueles que procuram entrar ilegalmente no país.

“Ele disse a todos para virem. Vimos seis milhões de pessoas cruzarem a fronteira [ilegalmente]. O fentanil matou mais americanos do que as guerras no Iraque e no Afeganistão juntas”, disse a embaixadora na ONU durante o Governo de Trump.

“No momento em que deixarmos de ser um país de leis, desistiremos de tudo em que este país foi fundado. Por isso, temos de proteger a fronteira”, acrescentou a antiga governadora da Carolina do Sul.

Numa discussão acalorada sobre a rede social chinesa TikTok, Nikki Haley lançou uma das frases mais duras da noite ao afirmar que se sentia “mais burra” cada vez que ouvia os argumentos de Vivek Ramaswamy que, entre as suas propostas, prometeu acabar com a cidadania por nascimento para os filhos de imigrantes indocumentados.

Ramaswamy, um empresário de biotecnologia indiano-norte-americano que se destacou no primeiro debate, foi nesta quarta-feira duramente criticado pelas suas negociações comerciais com a China, pelas suas promessas de cortar a ajuda à Ucrânia e até mesmo pela sua presença no TikTok.

“Só porque [o Presidente russo] Vladimir Putin é um ditador mau, não significa que a Ucrânia seja boa”, disse Ramaswamy, numa das frases mais polémicas da noite.

Ainda sobre declarações polémicas, o empresário classificou as mudanças de sexo, ”especialmente em crianças”, como um distúrbio de saúde mental.

Sobre a ajuda à Ucrânia, Tim Scott saiu em defesa do auxílio a Kiev, ressaltando que 90% dessa ajuda são empréstimos. O senador acrescentou que é do interesse nacional norte-americano degradar o poderio militar russo.

Quanto à política económica, Scott apresentou algumas metas ambiciosas no debate, sugerindo que as suas medidas poderiam criar 10 milhões de empregos num ano.

Sob a Presidência de Joe Biden, 12,1 milhões de empregos foram criados entre fevereiro de 2021 – à medida que a economia recuperava da pandemia – até fevereiro de 2023. Mas os gastos deficitários e a inflação acompanharam esses ganhos, pontos que acabaram alvo dos ataques dos candidatos Republicanos.

Outro dos temas abordados foi o aborto, com DeSantis a rejeitar a ideia de que os Republicanos venham a perder eleições devido à sua oposição à interrupção da gravidez e advogou que a sua reeleição como governador da Florida é uma prova disso.

Apesar de candidatos como Nikki Haley terem conseguido fornecer respostas concretas às perguntas dos moderadores, a desordem que dominou todo o evento tornou ainda mais difícil a qualquer candidato emergir como a alternativa mais viável a Donald Trump.

Asa Hutchinson, ex-governador do Arkansas que participou no primeiro debate Republicano, ficou de fora do evento de quarta-feira, enquanto Donald Trump optou por ir a Detroit para falar sobre a greve do setor automóvel.

O segundo debate ocorreu num momento crítico da campanha do Partido Republicano, a menos de quatro meses das convenções do Iowa lançarem formalmente o processo de nomeação presidencial.