Em conferência de imprensa, no parlamento, a deputada bloquista Joana Mortágua assinalou também que irá entregar um voto de condenação contra atentados à liberdade de expressão em relação ao cartoon animado de Cristina Sampaio, que se chama Carreira de Tiro.

Cristina Sampaio é colaboradora do coletivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP, e o seu cartoon animado, Carreira de Tiro, foi exibido pela televisão pública durante a transmissão do festival de música NOS Alive. Mostra um polícia que vai acertando cada vez mais tiros à medida que a pele do alvo vai escurecendo, com uma expressão cada vez mais zangada.

O ministro José Luís Carneiro assumiu que expressou ao Conselho de Administração da RTP desagrado pela exibição desse cartoon e a direção nacional da PSP revelou ter apresentado queixa ao Ministério Público. Em contraponto, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, defendeu que os humoristas e cartoonistas devem ter autonomia.

“A liberdade de expressão deve ser preservada para além de uma questão de gosto e a possibilidade de ironia e provocação devem permanecer no âmbito da liberdade artística de uma forma muito ampla, mesmo que isso possa ferir algumas sensibilidades”, começou por salientar Joana Mortágua.

Neste quadro, a deputada do Bloco de Esquerda considerou “inaceitável que o diretor nacional da PSP entenda que isto se pode resolver com uma queixa crime, mas ainda mais grave é que, perante esta mesma vontade de limitar a liberdade de expressão, o ministro da Administração Interna se sinta na autoridade, na capacidade e no poder de fazer uma chamada para o Conselho de Administração da RTP”.

Joana Mortágua vincou que a RTP é uma empresa pública de comunicação “naturalmente com liberdade e independência editorial e de informação”, razão pela qual é “inconcebível que o ministro da Administração Interna se sinta no poder de ligar ao Conselho de Administração para condicional aquilo que a RTP passa enquanto sua escolha editorial”.

“Estamos perante uma ingerência absolutamente inaceitável em relação à liberdade de imprensa e de expressão”, completou, antes de justificar a opção de o Bloco de Esquerda também pretender ouvir no parlamento o ministro da Cultura, além de José Luís Carneiro.

A deputada do Bloco de Esquerda observou que o ministro Pedro Adão e Silva tem a tutela da comunicação social e da RTP.

“Tal como o ministro da Administração Interna, o da Cultura também pertence ao chamado núcleo duro do Governo. Gostaríamos de perceber como o ministro da Cultura entende ter um colega seu, o da Administração Interna, a ligar diretamente para o Conselho de Administração da RTP para se queixar do conteúdo de um cartoon que está perfeitamente enquadrado pela liberdade de expressão, de imprensa e artística”, apontou Joana Mortágua.

A deputada do Bloco de Esquerda, eleita por Setúbal, acrescentou que, com a audição parlamentar, quer saber igualmente se Pedro Adão e Silva “considera normal que um outro membro do Governo ligue para o Conselho de Administração por não gostar de uma coisa que viu na televisão”.