“O Governo não caiu só por isto, mas também caiu por isto. Este é o regime dos interesses das portas giratórias, dos favores, dos facilitadores que destroem a nossa economia, que fragiliza o Estado e que fragiliza o interesse público e é sim, parte da crise política, que fez com que a maioria absoluta caísse da forma como caiu”, afirmou Mariana Mortágua.

Numa sessão de esclarecimento sobre economia de promiscuidade em Portugal, portas giratórias e facilitadores, que decorreu na Escola Soares dos Reis, no Porto, um dos exemplos dado pela líder bloquista foi Vítor Escária, ex-chefe de gabinete de António Costa, que trabalhou em vários governos e empresas privados nas últimas décadas em Portugal.

A coordenadora nacional do BE lamentou que Portugal seja um país que há 40 anos é “vítima” desta “economia de facilitadores” e apontou nomes como Vítor Escária, Lacerda Machado, que estava no Conselho Geral da EDP no governo de Sócrates, ou José Maria Ricciardi, “o facilitador para o comprador chinês no caso REN”.

Vitor Escária e Lacerda Machado são arguidos no processo “Operação influencer” sobre negócios de lítio, hidrogénio e a construção de um centro de dados em Sines.

“Queremos menos interesses económicos no Estado, queremos um estado livre de facilitadores e que as decisões sejam tomadas de acordo com os interesses do país”, declarou, arrancando aplausos de cerca de uma centena de pessoas.

Mariana Mortágua trouxe hoje a público uma “história de tomadas de decisões políticas”, no setor da energia e das barragens em Portugal desde 2007, que começou com o Governo de José Sócrates (PS), do qual faziam parte Vítor Escária e Manuel Pinho, então ministro da Economia.

Um governo onde se aprovaram os “projetos PIN (Projetos de Interesse Nacional) para passar à frente de todas as leis” e onde foram “criados os benefícios fiscais, e foi nesse governo que foi feito o negócio da concessão das barragens”, denuncia Mariana Mortágua.

“A mãe de todos os negócios, a EDP, tinha a concessão de todas as barragens e era preciso um concurso público para ficarem com a concessão das barragens, mas a EDP não queria ir a concurso e o Governo antecipou a data do concurso e prolongaram o contrato da concessão à EDP. Conclusão, a EDP conseguiu mais 25 anos para controlar as 26 barragens e estima-se que a perda do Estado foi de 700 milhões de euros”, revelou Mariana Mortágua, que tinha um quadro digital atrás onde iam aparecendo os nomes e caras dos “facilitadores”.

No governo de Passos Coelho (PSD), fala sobre Henrique Gomes, que fez um relatório “a dizer que a EDP ficou com dinheiro a mais no negócio das barragens” e que a EDP pediu um outro relatório a Vítor Escária, “que escreveu que o negócio foi justíssimo”.

Mariana Mortágua recordou que a denúncia destes casos e desta economia tem sido uma das “razões de existência do Bloco de Esquerda”.

“Denunciámos sempre todos estes negócios. Conseguimos fazer uma apresentação igual a esta para cada um deles, porque os estudámos todos, porque denunciámos todos os protagonistas e não importa quem era o governo, não importa quem era o primeiro-ministro, não importa se havia ou não havia acordo parlamentar. Nunca deixámos de denunciar os protagonistas denunciar os negócios, apontar quanto o Estado perdeu e lutar sempre pelo interesse público”, sustentou.