“Todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados”, lê-se no documento. Os dois países afirmam que a “situação internacional está a enfrentar mudanças” e que devem “trabalhar para promover os valores comuns de toda a humanidade”.

“O Brasil recebeu positivamente a proposta chinesa, que oferece reflexões conducentes à busca de uma saída pacífica para a crise”, refere o documento, que utiliza sempre a palavra “crise” para se referir ao conflito. Aquele termo é utilizado na linguagem oficial de Pequim, que não usa as palavras “guerra” ou “invasão”.

A China afirmou ser neutra, mas mantém uma relação “sem limites” com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão. O país criticou antes a imposição de sanções a Moscovo e culpou abertamente o alargamento da NATO pela guerra.

Num documento proposto em fevereiro passado para pôr fim ao conflito, Pequim destacou a importância de “respeitar a soberania de todos os países”, numa referência à Ucrânia, mas apelou também ao fim da “mentalidade da Guerra Fria” — um termo frequentemente usado pela China para criticar a política externa dos Estados Unidos da América.

“A China recebeu positivamente os esforços do Brasil em prol da paz. As partes apelaram a que mais países desempenhem [um] papel construtivo para a promoção de uma solução política [para] a crise na Ucrânia”, aponta a declaração conjunta. “As partes decidiram manter os contactos sobre o assunto”, diz.

O documento enfatiza ainda o “papel central das Nações Unidas no sistema internacional” e reafirma o compromisso bilateral de “promover a democratização das relações internacionais e praticar o multilateralismo”.

Os dois países defendem que o “impacto das alterações climáticas não pode ser omitido” e apelam a que seja “reforçada a cooperação nos domínios da proteção ambiental”.

O documento refere também o apoio de Brasília e Pequim ao “sistema comercial multilateral centrado na Organização Mundial do Comércio” e à promoção de uma “globalização económica mais aberta, inclusiva e equilibrada”.

Os dois lados descrevem a viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático, que arrancou na quinta-feira, como um “sucesso completo”. O líder brasileiro convidou Xi a visitar o Brasil em 2024, quando os dois países completam 50 anos desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre as duas nações.

Lula da Silva e Xi Jinping presidiram hoje à assinatura de 14 acordos nas áreas do comércio, tecnologia, desenvolvimento sustentável ou construção de infraestruturas.

Durante os primeiros dois mandatos de Lula da Silva, entre 2003 e 2011, a relação comercial e política entre Brasil e China intensificou-se, marcada, em particular, pela constituição do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui ainda Rússia, Índia e África do Sul.

O grupo reuniu-se pela primeira vez em 2009 – na altura ainda sem a África do Sul -, na sequência da crise financeira global, e logo estabeleceu uma agenda focada na reforma da ordem internacional, visando maior protagonismo dos países emergentes em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No conjunto, o BRICS representa cerca de 40% da população mundial e 24% do produto global bruto.

Na visão de Pequim e Moscovo, a ascensão do BRICS ilustra a emergência de “um mundo multipolar”, expressão que concentra a persistente oposição dos dois países ao “hegemonismo” ocidental e, em particular, dos Estados Unidos.