Os organizadores, um grupo intitulado “United for Europe”, reivindica o direito de a “sociedade civil britânica ser consultada e onde o parlamento ou a população tenha a palavra final sobre o nosso futuro”.
Entre as reivindicações, enumeraram a permanência no mercado único europeu, os direitos oferecidos pela cidadania de um país da UE e a garantia de que os cidadãos europeus estrangeiros poderão continuar a residir no Reino Unido.
A marcha, que começou junto a Hyde Park e seguir até à praça de Westminster, junto ao parlamento, começou por fazer um minuto de silêncio em memória das vítimas do atentado de quarta-feira que matou cinco pessoas (incluindo o atacante) e feriu 50.
A maioria das pessoas apresentaram-se de bom espírito, com cartazes feitos em casa com ou envergando bandeiras da União Europeia, que hoje comemora o 60.º aniversário do Tratado de Roma.
Entre os manifestantes encontravam-se pessoas de diversas nacionalidades, incluindo muitos britânicos, como Jack Stanton, que acredita que o futuro do país ainda está por definir.
“As pessoas estão zangadas porque a campanha [para o referendo] foi feita de mentiras, ninguém sabia o que iria acontecer. Temos de juntar a nossas vozes e reivindicar um voto ao acordo”, afirmou à agência Lusa.
No protesto participaram também alguns portugueses, vários com bandeiras nacionais às costas.
Julio da Cunha, um serralheiro mecânico há dez anos em Londres, participou para mostrar o “descontentamento com a situação criada pelo Brexit”, declarou à agência Lusa.
“Temos de ser unidos, lutar pelos nossos direitos. Temos de nos juntar e dizer à [primeira-ministra] Theresa May que também temos uma voz neste país, que também somos uma grande influência na economia deste país e todos juntos podemos fazer força para evitar que o Brexit não seja tão rigoroso”, defendeu
Também Lionel Pinheiro, cantor de ópera igualmente há cerca de uma década no Reino Unido, está empenhado em que o acordo de saída da UE não seja severo.
“Se for um Brexit que seja ‘soft’. Parte do meu trabalho envolve não só o Reino Unido, mas na Europa. Como português, tanto posso trabalhar em Braga como em Munique ou Atenas. Mas eu vim para aqui estudar e estou a fazer cá a minha vida. Será muito mais difícil no futuro se precisar de fazer alguma coisa como europeu estando cá”, lamentou.
Já Dina Mendes, no Reino Unido há 22 anos onde é enfermeira especialista numa escola, a preocupação centra-se no futuro da sua pensão de reforma.
“Gostaria de saber se se eu tiver de me ir embora, se posso levá-la comigo, se não tiver de ir embora se está protegida e vou tê-la, porque são muitos anos para perder por causa deste ‘hard Brexit’ que eles querem fazer”, afirmou.
Enquanto mãe, Dina Mendes reconhece que sair do país não seria uma decisão fácil e que está a dividir muitas famílias de imigrantes.
“Os meus meninos mais pequenos são ambos britânicos e eu tenho de perguntar a eles se querem sair do país deles e ir para o país da mãe”, explicou.
Miguel Alves, motorista, também há 25 anos no Reino Unido, participou hoje pela primeira vez numa manifestação por estar preocupado com o impacto do Brexit.
“Não tanto por mim, mas pelos meus filhos, porque as oportunidades vão ser mais raras, algumas empresas vão sair daqui e eles vão sofrer”, previu.
Ao participar no protesto, Miguel Alves quis exigir respeito, acrescentando: “Não nos usem como carne para canhão, deixem-nos ficar sem nos tirarem direitos”.
O governo britânico anunciou pretender acionar na quarta-feira o artigo 50 que determina a saída do país da UE, respeitando assim o resultado do referendo de 23 de junho de 2016.
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