No final de uma reunião de cerca de uma hora com o Presidente da República, Carlos César sublinhou que os documentos aprovados na semana passada provaram que "é possível ter ao mesmo tempo responsabilidade financeira e responsabilidade social", algo que era negado pela direita.

Questionado sobre a posição crítica do PSD em relação aos dois documentos, transmitida um pouco antes pelo líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, em Belém, Carlos César disse desejar que o PSD possa ser "útil a Portugal".

"Reduzir o PSD, como faz o doutor Pedro Passos Coelho, a um partido de contestação permanente, a um partido de contras é muito pouco para a ambição que o PSD devia ter no contexto português", criticou.

O presidente e líder parlamentar socialista salientou que, no ano passado, o PS aprovou cerca de dois terços das propostas que o PSD apresentou no parlamento a propósito do Programa Nacional de Reformas, contrariando afirmações anteriores de Passos Coelho, que tinha dito que "a maioria [parlamentar] chumbou a maioria" dessas propostas.

"A questão é que não vivemos como cataventos, não temos um Programa Nacional de Reformas nove meses antes e um Programa Nacional diferente nove meses depois", sustentou.

Carlos César disse ter transmitido a Marcelo Rebelo de Sousa o "grande empenhamento" do PS em prosseguir o caminho de "romper com a herança negativa" do anterior executivo e garantiu contar para tal com o apoio de BE, PCP e PEV.

"Com a ajuda dos nossos aliados que apoiam o Governo, a aprovação agora junto das instâncias europeias do Programa Nacional de Reformas e do Programa de Estabilidade, a aprovação do Orçamento do Estado para o próximo ano, são documentos e momentos que reafirmam a estabilidade política e social em que vivemos", afirmou.

Apesar de admitir a diferença que existe com os partidos que apoiam a solução governativa em matérias europeias, o presidente do PS sublinhou que essa divergência "nunca deixou de permitir uma grande confluência naquilo que tem sido a política económica e a política social" do Governo.

Para Carlos César, até instâncias nacionais e internacionais que no passado duvidaram do sucesso da política do atual Governo - citando o FMI, a Comissão Europeia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ou o Conselho Nacional de Finanças Públicas - mudaram de posição.

"Se toda esta panóplia de instituições tão exigentes e díspares reconhecem a qualidade da nossa governação e dos seus resultados, ficam apenas para trás o PSD e o CDS, é um problema que diz respeito a esses partidos", apontou.

Questionado sobre a viabilidade, no próximo Orçamento, de rever os escalões do IRS, como pretende o BE, Carlos César não respondeu diretamente, mas afirmou que esta é uma matéria já discutida desde o início da atual solução governativa.

"Independentemente de intensidades, da substância que nos pode dividir num ou noutro assunto, há algo que provámos: uma grande consistência e uma grande vontade comum de levar por diante este projeto e termos bons resultados", frisou.

Ressalvando que "as boas sugestões não são um exclusivo de partidos à esquerda", Carlos César voltou a lamentar que o PSD não tenha feito qualquer elogio à ação governativa e raramente reconhece ter-se enganado quanto às suas previsões.

"Anunciou a vinda do diabo e até agora não temos notícias dessas labaredas negativas", disse.

Depois do PSD e do PS, o Presidente da República recebe ainda hoje à tarde o Bloco de Esquerda, e na terça-feira o PCP, o PEV, o PAN e o CDS-PP.

O Programa de Estabilidade e o Programa Nacional de Reformas foram aprovados na quinta-feira em Conselho de Ministros, estando o debate do parlamento agendado para quarta-feira.