É um novo recorde para uma carta do vencedor do Prémio Nobel de Física de 1921. O preço - que equivale aproximadamente a 2,55 milhões de euros - também é consideravelmente superior ao estimado para o documento, entre um milhão e um milhão e meio de dólares (entre aproximadamente 880 mil e 960 mil euros).

Na carta vendida na terça-feira, datada de 1954 e escrita em alemão, tendo como remetente o filósofo judeu alemão Eric Gutkind, Einstein refuta quaisquer crenças religiosas.

"A palavra Deus não é para mim nada mais do que a expressão e o produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma coleção de veneráveis, mas ainda primitivas, lendas que, não obstante, são muito infantis", escreveu o físico um ano antes da sua morte, em abril de 1955.

"Nenhuma interpretação, por mais subtil que seja, pode [para mim] mudar isso", acrescenta na carta de uma página e meia um dos mais célebres pensadores do século XX.

Anteriormente, a carta foi oferecida em leilão em 2008 e comprada por um colecionador privado por 404 mil dólares (aproximadamente 356 mil euros), segundo a Christie's.

Filho de judeus asquenazes, Einstein fugiu da Alemanha para os Estados Unidos aos 54 anos, quando Adolf Hitler chegou ao poder.

Para além de questionar Deus, na mesma carta o físico assegura que o judaísmo não é superior a outras religiões e que os judeus não são o povo escolhido.

"Para mim, a religião judaica é como todas as outras religiões, uma encarnação da superstição primitiva", escreve Einstein, acrescentando que "o povo judeu, ao qual eu pertenço com muito gosto, e em cuja mentalidade me sinto profundamente ancorado, até para mim não tem nenhum tipo de dignidade diferente de outros povos".

"Na minha experiência, eles não são de melhores do que quaisquer outros grupos humanos", completa, defendendo que "estão protegidos do pior dos cancros pela sua falta de poder" mas que não vê "nada de 'escolhido' quanto a eles".

Esta é uma das provas referenciadas quanto a teoria de que Einstein era ateu, rótulo que o físico e pensador rejeitou ao longo da sua vida.

Como escreve o Guardian, Einstein foi educado para seguir um credo religioso devoto, mas aos 13 anos "abandonou o seu fervor religioso acrítico, sentindo que tinha sido induzido a acreditar em mentiras". Seguindo o pensamento de Baruch Spizona, pensador holandês do século XVII, o físico dizia acreditar num tipo de credo teista assente "na harmonia do mundo regida por leis, não num Deus que se preocupa com o destino e os feitos da humanidade."