“Há 337 pessoas feridas ou com contusões. Pedimos aos feridos que façam uma denúncia junto dos Mossos d’Esquadra (polícia regional)“, declarou em conferência de imprensa o porta-voz da Generalitat, Jordi Turull.

Os Mossos d'Esquadra fecharam mais de 90 colégios eleitorais em toda a Catalunha, para onde também foi destacada a Guardia Civil e a Polícia Nacional para impedir que estes pontos de votação abram para o referendo sobre a independência.

Todavia, fontes da Procuradoria-Geral do Estado espanhol citadas pelo jornal El País manifestaram o seu “mal-estar” quanto à atuação dos agentes da polícia autonómica por “terem atraiçoado a confiança que os juízes e os procuradores depositaram neles até ao último momento”.

Face à inação da polícia regional em alguns locais, foram chamadas a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola. Foram estes corpos de polícia de âmbito nacional que então protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo.

Os agentes da Polícia Nacional apareceram em pelo menos quatro pontos de votação de Barcelona, onde tentaram romper o cordão de pessoas concentradas frente às assembleias de voto para encerrá-las, como ordenou o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC).

Em alguns locais ocorreram cenas de tensão e algum uso de força entre os populares e a polícia, equipada com material antidistúrbios, ainda não utilizado, como armas de balas de borracha. A Polícia Nacional foi acionada depois de os Mossos d'Esquadra (polícia catalã) terem estado em diversas assembleias de voto, limitando-se a fazer a ata, mas sem impedir o referendo.

Os catalães começaram a votar às 09:00 (08:00 de Lisboa) nos colégios eleitorais que conseguem manter-se abertos, apesar de recearem que a polícia possa aparecer a qualquer momento para as encerrar.

Os Mossos d'Esquadra (polícia catalã) encerraram já várias escolas - o número tem vindo a ser atualizado ao longo da primeira hora de votação - e retiraram urnas em vários pontos de votação, incluindo as da Escola Oficial de Idiomas de Barcelona, onde os agentes foram rodeados por apoiantes ao referendo.

Segundo disseram à agência Efe fontes policiais, os agentes destacados para a Escola Oficial de Idiomas, na zona de Drassanes, em Barcelona, conseguiram retirar as quatro urnas quando estavam a ser introduzidas no colégio eleitoral. Um grupo de pessoas que se tinha concentrado neste local de votação rodeou os agentes que retiraram as urnas, pelo que foi necessário que os Mossos d'Esquadra pedissem reforços.

Na escola Rainha Violant, em Barcelona, o colégio abriu à hora prevista, tendo entrado em primeiro lugar idosos e pessoas com pouca mobilidade para votar no referendo sobre a independência da Catalunha. As centenas de pessoas amontoadas fora da porta à espera do momento para votar cantaram primeiro o Hino da Catalunha e em seguida afastaram-se para deixar passar as pessoas de idade, enquanto gritavam “se não há avós, não há revolução”.

Até agora, a polícia catalã já encerrou mais de 15 colégios eleitorais, cumprindo a ordem do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha para impedir a votação no referendo sobre a independência da Catalunha, convocado pelo governo catalão.

Centenas de eleitores, na sua esmagadora maioria pró-independência, começaram a formar filas em frente dos colégios eleitorais ainda de madrugada para evitar que estes fossem fechados pela polícia.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu, no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para hoje.

Urnas escondidas em sacos de plástico

As urnas chegaram escondidas em sacos de plástico por uma porta das traseiras da Escola Rainha Voilant, no Bairro da Gràcia, em Barcelona. Um independentista revelou à Lusa que tinham vindo da China e até sábado estavam num barco chinês no porto de Barcelona, mesmo ao lado de um barco da polícia que não se apercebeu da carga do barco. A polícia passou por esta escola a última vez às 03:00 (02:00 em Lisboa) e todos receiam que os agentes regressem antes da abertura da assembleia de voto às 09:00 (08:00 em Lisboa).

Cerca das 07:00 (06:00) foi pedido aos muitos populares que esperavam dentro do estabelecimento de ensino que saíssem para a rua, para que a assembleia de voto fosse constituída e os membros da mesa fossem indicados. Pouco antes tinha havido muitos aplausos e gritos de “votaremos, votaremos” quando um grupo de país e crianças que tinham dormido numa sala abandonaram a escola. Centenas de eleitores, na sua esmagadora maioria pró-independência, começaram a formar filas em frente de colégios eleitorais ainda abertos para evitar que estes sejam fechados pela polícia e para poderem votar a partir das 09:00 (08:00 em Lisboa).

“Estou aqui para evitar que a polícia feche o colégio eleitoral e para exercer o meu direito de voto”, explicou Pau Suris à agência Lusa na fila cada vez mais compacta em frente à escola Rainha Violant, no Bairro de Gràcia, em Barcelona.
Este apoiante da causa separatista, que chegou às 05:00 (04:00), assegura que os presentes irão utilizar uma “resistência pacífica” no caso de a polícia tentar fechar o colégio eleitoral.

As forças de segurança deram até às 06:00 (05:00 em Lisboa) de hoje para os ocupantes abandonarem as escolas, mas várias dezenas de pais, professores e moradores dormiram pela segunda noite consecutiva na escola para impedir que esta fosse selada pela polícia.

“Estou aqui para defender a democracia”, afirma Marc Coll, que há duas noites dorme com mais cerca de seis dezenas de populares num corredor da escola Rainha Voilant, “para evitar que a Polícia Nacional e a Guardia Civil fizessem alguma represália”.

Nos corredores da escola, várias pessoas continuavam deitadas no chão dentro de sacos-cama e numa sala próxima começava a ser servido o pequeno-almoço, tudo num ambiente de amena cavaqueira.

Os Mossos d’Esquadra (polícia regional) já declararam que não irão desalojar as pessoas com violência.

Os movimentos separatistas desde quarta-feira que pedem aos eleitores para assegurar a abertura de locais de voto com “filas gigantes e ordenadas”, para mostrar que conseguiram organizar o que gostariam que fosse um referendo vinculativo.

Os opositores à independência, que os estudos de opinião indicam serem maioritários, não participaram na campanha eleitoral nem irão votar, para não darem credibilidade a uma consulta que também consideram ser ilegal.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para hoje.

Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.

Notícia atualizada às 11h24