Estas posições foram defendidas pelo antigo líder centrista no 31.º Congresso do partido, em Viseu, num discurso de cerca de 40 minutos no qual afirmou que o CDS "pode até estar agradecido ao PSD" por lhe ter dado "a mão no regresso ao parlamento", através da coligação Aliança Democrática (AD).

"É verdade. Mas o PSD só ganhou as eleições porque o CDS lá estava ao lado do PSD. Nós não esquecemos nem a nossa circunstância, nem somos ingratos. Mas uma coisa é não esquecer a nossa circunstância nem sermos ingratos, outra coisa é sermos esquecidos ou distraídos", sustentou.

Monteiro afirmou que "é bom que o parceiro de coligação saiba que existe uma coligação e que o governo é um governo de dois partidos e não apenas de um partido".

"O que é que isto significa? Significa que nós não temos que pedir desculpa, doutor Paulo Núncio, de sermos contra o aborto", defendeu, num momento bastante aplaudido.

Monteiro lembrou que o CDS "deu a cara", posicionando-se contra a Interrupção Voluntária da Gravidez no primeiro referendo, altura em que foi "espezinhado e assobiado".

"Mas nós lá estávamos. Na perspetiva de que sempre tivemos de que os valores não se negoceiam, não se colocam em segundo plano. Porque no dia em que aceitarmos ter os nossos valores em segundo plano, deixamos de ter a nossa identidade e marca. E se deixarmos de as ter não estamos cá a fazer rigorosamente nada", defendeu.

Monteiro, que foi um dos autores do polémico livro "Identidade e Família", apresentado na semana passada pelo antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, disse ter participado "com muita honra" na obra e que "voltaria a participar ainda com mais vontade e ânimo" hoje.

"Para dizer que não há nenhuma polícia de pensamento em Portugal que nos possa impedir de ser livres e de defender o que convictamente acreditamos. O problema é que há por aí algumas pessoas que querem os votos da direita desprezando os valores da direita. E ninguém pode pretender ter os votos da direita desprezando os valores da direita. Isso tanto vale para nós como para o PSD", avisou.

Nesta intervenção, na qual foi acompanhado ao palco pelo atual líder Nuno Melo, o ex-presidente entre 1992 e 1998 salientou que “a liberdade de pensamento é total e não pode deixar de ser”.

“Mal andaríamos se 50 anos depois do 25 de abril de 1974 ainda tivéssemos aí uns senhores a dizer quem é democrata e quem não é, quem é reacionário ou é conservador, quem pode falar ou não pode falar. Pasme-se, 50 anos depois, temos os herdeiros dessas pessoas que andavam calados, mas o doutor António Costa entendeu dar-lhes a mão - quem sabe a pensar no futuro lugar do Conselho Europeu, ainda que abençoado pelo senhor Presidente da República”, considerou, momento em que se ouviram vaias na sala.

Monteiro considerou que está de volta “um espírito e um sentimento na sociedade portuguesa que pensava que estava ultrapassado”, mas garantiu que o CDS não tem receio de dizer o que acredita.

(Artigo atualizado às 20h52)