“Vamos salvar o clima ou vamos ficar à espera?”, “Mudar o sistema, não o clima”, “Não ao furo, sim ao futuro” e “Empregos com dignidade, para o clima e a sociedade” eram alguns dos ‘slogans’ constantes dos cartazes empunhados pelos participantes, que ao princípio da tarde se concentraram na avenida dos Aliados e seguiram, depois, em marcha até à praça da Ribeira.

Em declarações à agência Lusa, Paula Sequeiros, da organização Coletivo Clima, um dos vários grupos promotores da marcha, alertou para a “contradição” do Governo português ao “assumir compromissos com as cimeiras do clima, dizendo que se comprometia a baixar as emissões de gases de efeito de estufa”, ao mesmo tempo que autorizava concessões de explorações de gás e petróleo em Portugal.

“Isto não é compatível. É completamente impossível atingir esses objetivos se as concessões de exploração de gás e de petróleo não pararem de imediato. Não queremos ver nenhuma concessão, nem em terra, nem no mar”, sustentou.

Salientando que “a espécie humana em particular não sobrevive a uma economia predadora do carbono, baseada no petróleo, gás e carvão”, Paula Sequeiros diz ter chegado “o tempo de se começar a trabalhar ativamente para a utilização das energias alternativas”.

“Vamos ter, inevitavelmente, de criar uma nova economia para podermos sobreviver. As alterações climáticas já são uma realidade e as nossas respostas e as respostas que o Governo tem de dar também têm de ser imediatas. Já estamos atrasados”, afirmou.

Para a Coletivo Clima, suspensas que foram já seis concessões de exploração de petróleo e gás no Algarve, impõe-se agora “parar o furo de Aljezur, que estava programado para iniciar a exploração já durante o mês de abril”.

Apesar de o tema central escolhido pela organização da marcha em Portugal ser a reivindicação da travagem da prospeção na costa de Aljezur e do fim dos contratos para exploração de hidrocarbonetos no país, participaram também na iniciativa do Porto um movimento cívico de Ponte de Lima que luta contra a construção que dizem ser “ilegal” de uma central de betuminosos na região e um grupo de Ovar preocupado com a subida do nível médio das águas do mar, devido ao aumento da temperatura global.

“É um dever como cidadãos, só temos um planeta e todos temos de lutar pela alteração de políticas”, considerou a militante do PAN Raquel Pinheiro, de 23 anos.

Já Irina Duarte, de 32 anos, residente em Lisboa, mas a fazer um mestrado no Porto, soube da marcha pelas redes sociais e fez questão de participar, porque “é urgente criar alternativas de sustentabilidade e novas formas de viver”, já que as atuais “não são sustentáveis”.

“A realidade ainda está muito camuflada, muitas pessoas, ou não têm interesse ou não querem ver o que se está a passar, mas é importante cada vez mais as pessoas tomarem conhecimento de factos de que muitos não se apercebem no dia-a-dia”, considerou.

A Marcha Mundial pelo Clima realizou-se hoje em 25 países, com iniciativas em Portugal, nas cidades de Lisboa, Porto e Aljezur, em protesto contra as políticas norte-americanas sobre combustíveis fósseis e contra a prospeção de petróleo na costa portuguesa.

Dezenas de associações da sociedade civil e partidos políticos como o PAN, o BE e “Os Verdes” juntaram-se na organização da iniciativa em Portugal, associando-se a todos aqueles que, nos 25 países participantes, exigem novas medidas para mudar o atual paradigma de exploração de combustíveis fósseis.

Estes são apontados como os responsáveis por grande parte das emissões de gases com efeito de estufa que resultam nas alterações climáticas e no aumento da frequência de fenómenos extremos, de precipitação ou de seca, de ondas de calor ou de frio.

A base da marcha internacional é a capital dos Estados Unidos da América (EUA), Washington, tendo como pano de fundo a condenação das políticas do Presidente norte-americano, Donald Trump, que dizem desvalorizar a defesa do clima.