Na homenagem, o presidente francês, Emmanuel Macron, colocou uma coroa de flores debaixo da placa onde se lê "à memória de Manuel Dias", fez-se um minuto de silêncio e, depois, o chefe de Estado foi cumprimentar os familiares, tendo falado com a viúva e a filha de Manuel Dias que estavam na primeira fila, enquanto o filho, na segunda fila, recuou voluntariamente para não o saudar.

Michaël Dias, que decidiu à última hora assistir à cerimónia à qual tinha inicialmente pensado não ir, explicou o seu gesto como um ato de "resistência cívica".

"Decidi vir para estar com a minha família num dia que é de homenagem, mas decido não cumprimentar o presidente se ele vier falar comigo, como forma de resistência cívica para com a ação e o desprezo que ele tem demonstrado para com as vítimas, assim como os mais pobres e precários do nosso país", tinha avisado Michaël Dias momentos antes do início da homenagem.

O lusodescendente afirmou que muitas das vítimas estão hoje "numa situação dramática", exemplificando que algumas têm de lutar para ter direito a certos tratamentos, "pessoas que perderam uma autonomia financeira enorme, que vivem em situações dramáticas e não há qualquer tipo de ajuda".

"O novo presidente, desde a sua chegada, suprimiu o secretariado de Estado de Ajuda às Vítimas e hoje não temos qualquer interlocutor nesta área. Se temos problemas, temos de os resolver sozinhos com uma administração que é tão fria connosco como é com as outras pessoas e isso é muito complicado para muitas vítimas mesmo", afirmou.

Depois da cerimónia, Élia Dias, viúva de Manuel Dias, sublinhou à Lusa que "para o senhor presidente o 13 de novembro é apenas hoje".

"Para mim é todos os dias 13 de novembro. A minha vida não tem sentido. A minha vida acabou a 13 de novembro, portanto, o presidente veio e eu respeito e ajuda-nos um bocadinho, mas o 13 de novembro é todos os dias para mim. Para ele é unicamente hoje", afirmou, visivelmente emocionada.

A filha, Sofia Dias, contou que também insistiu junto do presidente francês que "o 13 de novembro não é só hoje" e que há "muita burocracia e muitos problemas que bloqueiam" a ajuda e que as vítimas estão "a tentar contar com a colaboração do presidente da República, o que não tem sido fácil", ao que o chefe de Estado respondeu que iria "tentar ajudar".

"Disse que iria tentar ajudar-nos e que vai fazer os possíveis para a situação não ficar por aqui e tentou perceber um pouco quais eram as nossas maiores complicações, dificuldades", adiantou Sofia Dias.

A cerimónia contou com várias personalidades, como o Presidente francês, Emmanuel Macron, o ex-presidente francês François Hollande, o ministro do Interior, Gérard Collomb, a ministra da Justiça, Nicole Belloubet, a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, o Cônsul-Geral de Portugal em Paris, António Albuquerque Moniz, e representantes das associações de vítimas dos ataques de 13 de novembro, como Patricia Correia, mãe de uma vítima franco-portuguesa do Bataclan e vice-presidente da Associação "13 Novembre: Fraternité et Vérité".

Patricia Correia, mãe de Precilia Correia, que morreu no ataque à sala de concertos há dois anos, explicou que a sua vida vai ficar marcada pela luta pela preservação da memória das vítimas.

"Todos os anos, toda a minha vida, espero que toda a gente vá pensar em todas as vítimas. Isto é uma coisa que deve ficar gravada no mármore", afirmou, num português que tem visivelmente melhorado desde que vai regularmente a Lisboa, onde a filha está enterrada no cemitério dos Prazeres.

Manuel Dias, de 63 anos, vivia em Reims, no nordeste de França, desde os 18 anos, sendo natural de Mértola, no Alentejo, onde foi enterrado.

As cerimónias em memória das 130 vítimas dos atentados continuam, esta manhã, nos locais visados pelos jihadistas a 13 de novembro de 2015: os cafés Le Carillon, Le Petit Cambodge, La Bonne Bière, Le Comptoir Voltaire e La Belle Équipe e a sala de concertos Bataclan, não estando previstos discursos.

Dois anos depois dos atentados, as autoridades francesas detiveram 13 suspeitos dos piores ataques em solo francês desde a II Guerra Mundial, mas ainda procuram outros envolvidos.