Muitas vezes confundido apenas como o padroeiro das festas de Lisboa, ou mesmo da cidade, Santo António teve uma história muito completa que marcou para sempre o catolicismo e a capital portuguesa.

Nascido a 15 de agosto de 1191, em Lisboa, é batizado na Rua das Pedras Negras, junto à Sé de Lisboa como Fernando Martins de Bulhões. Na casa onde nasceu e viveu a sua infância está hoje a Igreja de Santo António, e na Cripta é possível ver um pedaço de um dos ossos do Santo, autenticado por Bula Papal.

De acordo com a cronologia providenciada pelo Museu de Lisboa, o rapaz que viria a ser Santo faz os primeiros estudos e Artes Liberais na Escola Catedralícia anexa à Sé de Lisboa (por 1198/1209), até aos 15 anos. Nesta altura, vive com os pais e com a irmã e foi "menino do coro".

Ao visitar a Sé, é possível apreciar o interior do batistério que acolheu o santo português mais conhecido em todo o mundo. Forrado com painéis de azulejos do século XVIII, aqui foram batizadas inúmeras personalidades ilustres da história de Portugal.

Outro dos sinais da passagem de Santo António pela Sé de Lisboa pode ser encontrado na parede da escadaria que conduz ao coro alto: a famosa cruz de Santo António. Segundo o site da Sé, a lenda diz que, quando era criança e estudava na escola desta igreja, Santo António foi tentado pelo demónio neste local e repeliu-o desenhando o sinal da cruz que aqui ficou gravado. Este terá sido o primeiro dos muitos milagres que se atribui ao santo nascido em Lisboa.

De Lisboa a Coimbra à procura da simplicidade

Depois de concluir os estudos, Fernando Martins de Bulhões integra a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, na Igreja de São Vicente de Fora, mas quer mais e em busca da introspeção e da simplicidade acaba por ingressar na recém-criada Ordem Franciscana, na cidade de Coimbra, no mosteiro de Santa Cruz, em 1220, que o convida a deixar de lado não só o hábito de agostinho, mas também o seu nome.

No mosteiro, tinha à sua disposição a melhor biblioteca monacal do País, que o faz dedicar-se a conhecer e pregar as escrituras, algo que lhe será útil quando se muda para Itália anos mais tarde.

Nesta altura, o mundo cristão vivia intensamente a época das Cruzadas, a"guerra santa" de então desencadeada contra o Islão. E da parte dos Muçulmanos dava-se o inverso, a luta contra os cristãos. Ambos acreditavam que a fé os levaria à vitória. De Oriente a Ocidente os exércitos batalham, e neste turbilhão surgem novas formas de espiritualidade.

Em 1209, Francisco de Assis (São Francisco) abandona o conforto e luxo da casa paterna para, com outros companheiros, se recolher numa pequena comunidade, dando origem a uma nova reflexão sobre a vivência do Evangelho. É a aproximação à natureza, à vida simples e à redescoberta da dignidade da pobreza preconizada pelos primeiros cristãos. Em poucos anos, homens e mulheres, alguns ainda jovens e filhos de famílias abastadas e poderosas, sentem-se atraídos por esta vida de despojamento e sacrifício, com os olhos postos no exemplo de Cristo. É a esta filosofia que António decide juntar-se  e muda-se com outros frades para o ermitério de Santo Antão (ou António) dos Olivais, na altura um pouco afastado de Coimbra, nuns terrenos doados por D. Urraca, mulher do rei D. Afonso II, segundo informação da Igreja de Santo António.

Em janeiro de 1220, são degolados em Marrocos pelos muçulmanos cinco frades franciscanos e todo o mundo cristão sofre um enorme abalo. Em meados de 1220 chegam, com grande pompa religiosa, ao convento de Santa Cruz de Coimbra, as relíquias destes mártires de Marrocos, e esse acontecimento vai ser decisivo no rumo da vida de Santo António.

Parte para Marrocos, sentindo que também ele é chamado a participar na conversão dos chamados infiéis. Porém, adoece gravemente e, não podendo cumprir aquilo a que se propunha, teve de embarcar de regresso a Lisboa. Só que o barco é apanhado numa tempestade e vê o seu itinerário alterado. Acaba por aportar na Sicília num período de grandes conflitos armados entre o Papa Gregório IX e o rei da Sicília, Frederico II.

Um orador invulgar

Em maio de 1221, os franciscanos vão reunir-se no chamado Capítulo Geral da Ordem, onde Santo António está presente. No final, os frades regressam às suas comunidades, entre as quais a de Montepaolo, perto de Bolonha, onde, a par da vida contemplativa e de oração, cabe também tratarem das tarefas domésticas do convento. Aqui, os outros frades reparam na grande modéstia de António e apreciam os seus profundos conhecimentos teológicos.

Findo este período de reflexão, os frades franciscanos são chamados à cidade de Forlì para serem ordenados e António é escolhido para fazer a conferência espiritual. E começa a falar. Ninguém até ali percebera até que ponto ele era conhecedor das Escrituras e como a sua fé e os seus dotes oratórios eram invulgares.

Nesta altura, quando começou a falar, cativou imediatamente os outros frades e a sua vida seria a partir daquele dia de pregador da palavra de Cristo, percorrendo várias regiões da atual Itália, entre 1223 e 1225. Por sugestão do próprio São Francisco, vai ser mestre de Teologia em Bolonha, Montpellier e Toulouse.

Quando São Francisco morre, em 1226, Santo António vai viver para Pádua. Nesta cidade, onde acaba por falecer, começa por fazer sermões dominicais, mas tendo o dom da palavra que era mais acessível ao povo, cada vez mais gente se junta nas igrejas para o ouvir.

Do interior da igreja acaba a discursar na rua para conter as multidões e, mais tarde, vai pregar para campos abertos, onde de acordo com o site da Igreja com o seu nome, chega a ser ouvido por mais de 30 mil pessoas.

Depois disto, começa a ser sabido que António faz milagres e os apazes de Pádua têm mesmo que fazer de guarda-costas do Santo português, tal a multidão à sua volta. As mulheres tentam aproximar-se dele para cortarem uma pontinha do seu hábito de frade como uma relíquia.

O bispo de Óstia, mais tarde papa com o nome Alexandre IV, pede-lhe que escreva sermões para os dias das principais festas religiosas. Mais tarde, seria este papa a canonizá-lo. Santo António assim faz. Esses documentos escritos são hoje uma referência, porque Santo António como pregador escreveu pouco. Apenas lhe são atribuídas as obras Sermones per Annum Dominicales (1227-1228) e In Festivitatibus Sanctorum Sermones (1230).

Sentindo-se doente, António pede que o levem para Pádua, onde queria estar nos seus últimos dias, mas foi na viagem, num pequeno convento de Clarissas, em Arcella, que acabaria por morrer, no dia 13 de junho de 1231.

Foi canonizado em 1232, quando ainda nem tinha passado um ano desde o seu falecimento, caso único na história da Igreja Católica, já que nem São Francisco de Assis teve tal exceção.

Onde está sepultado Santo António?

Depois de morrer em Arcella, a população queria sepultá-lo na sua igreja e a população de Pádua exigia que a última vontade de Santo António fosse cumprida. Após a disputa, Pádua acolheu o corpo do santo e sepultou-o na igreja de Santa Maria Mater Domini. No ano seguinte, a cidade decidiu edificar uma Basílica em sua honra, e a pequena igreja onde está o corpo do santo foi integrada na construção. Oito séculos passados, a Basílica de Santo António continua de pé e ainda hoje é uma atração turística na cidade italiana.

Durante a cerimónia de inauguração da Basílica de Santo António, o túmulo de Santo António foi aberto e constatou-se que a sua língua se encontrava em ótimo estado de conservação, mesmo depois de 40 anos decorridos sobre a sua morte. Tendo em conta a sua qualidade de pregador, a língua do santo foi retirada e colocada num relicário, onde continua exposta aos fiéis até aos dias de hoje.