Com confiança reforçada, depois do regresso à Assembleia da República nas eleições legislativas de janeiro, nas quais o Livre conseguiu eleger o historiador Rui Tavares, o XII Congresso do Livre decorreu este fim de semana, no Convento de São Francisco, em Coimbra.

Depois de um período conturbado com a retirada de confiança política em Joacine Katar Moreira e a perda de representação parlamentar em 2020, este fim de semana os membros do Livre mostraram-se felizes com o regresso ao parlamento, mas também tentaram vincar que o partido vai além do historiador.

Pela primeira vez desde a sua fundação, o Livre teve duas listas candidatas à direção e ao Conselho de Jurisdição, com a oposição interna a pedir uma maior pluralidade de vozes do partido no espaço público.

Durante os dois dias de reunião magna foram-se ouvindo apelos de vários membros para essa pluralidade de vozes, incluindo do dirigente Ricardo Sá Fernandes, membro do Conselho de Jurisdição.

Sá Fernandes ressalvou que Rui Tavares foi e é “fundamental na vida do partido”, mas o Livre tem que “crescer com outras caras, com outras pessoas”, mostrando a sua diversidade.

Mas as ‘dores de crescimento’ do partido não se manifestaram apenas na existência de duas listas, com uma reunião magna que ficou marcada por várias intervenções de membros descontentes com a forma de funcionamento da Assembleia do partido (órgão máximo entre congressos) bem como com a sua relação com a direção.

No meio de algumas críticas e avisos houve espaço para apelos à união interna, que marcaram o final do congresso, e membros a lembrar que o partido sobreviveu a muitas “mortes anunciadas”.

Sem surpresas, a lista ‘A’ candidata à direção, constituída maioritariamente por membros de continuidade, ganhou com 67% dos votos, conquistando 10 de um total de 15 lugares no Grupo de Contacto. Os restantes cinco lugares foram ocupados por representantes da lista ‘B’.

Também na eleição para o Conselho de Jurisdição a lista ‘A’, integrada pelo dirigente Ricardo Sá Fernandes, voltou a sair vencedora, com 66% dos votos, o equivalente a 8 mandatos de um total de 11.

Coube a Rui Tavares o encerramento do congresso, que destacou a capacidade de persistência do Livre e voltou a insistir na necessidade de convergência política à esquerda, prevendo “campos cheios de papoilas”, símbolo do partido.

“Alguns de nós falaram de que tínhamos visto as primeiras papoilas a aparecer ainda neste Inverno, aquelas mais teimosas, mais persistentes, aquelas mais precursoras. Nós sabemos que vinda esta primavera os campos do nosso país se vão encher de papoilas”, declarou na sua intervenção final.

O deputado eleito a 30 de janeiro já prometeu que a primeira proposta do partido quando tomar posse na Assembleia da República será sobre o tema da pobreza energética no país, compromisso que reiterou nesta reunião magna.

Os membros do Livre parecem estar decididos em ultrapassar o ‘fantasma’ da eleição passada e a polémica com Joacine Katar Moreira, que dominou o último congresso em 2019.

Ao som de “Grândola, Vila Morena” do cantor de intervenção antifascista José Afonso, as bandeiras do Livre enfeitaram a sala Mondego do Convento de São Francisco, com o partido a tentar agarrar esta “segunda oportunidade”.