São precisas cinco chaves, mais mil cuidados, e uma complexa operação, para retirar o coração do “Rei Soldado” do mausoléu da igreja da Lapa, conforme descreveu à Lusa, em 2013, o historiador e mesário Ribeiro da Silva.

Antes de viajar temporariamente para o Brasil, o coração do monarca, que chegou ao Porto em fevereiro de 1835, estará, pela primeira vez, em exposição aberta ao público no Salão Nobre da Irmandade da Lapa.

O coração do rei D. Pedro I do Brasil e D. Pedro IV de Portugal, que morreu em Queluz em setembro de 1834, estará em exposição hoje, entre as 10:00 e 20:00, e no domingo, entre as 10:00 e as 16:00, sendo a entrada livre.

No domingo, depois do encerramento da exposição, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o embaixador da República Federal do Brasil em Lisboa, Raimundo Carreiro Silva, vão assinar o protocolo que define as condições da transladação e que garante que serão tidos em conta os cuidados necessários no transporte.

Já durante a noite, o coração do monarca, cujo corpo se encontra na cidade brasileira de São Paulo, atravessa o oceano Atlântico, em ambiente pressurizado, para marcar presença nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil, antiga colónia portuguesa que o rei conduziu à independência.

A transladação do órgão, prevista para a 00:20, será acompanhada pelo presidente da Câmara do Porto, que levará pessoalmente o coração ao Brasil com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB).

O coração de D. Pedro chega na segunda-feira pelas 09:30 (13:30 de Lisboa) à base aérea de Brasília, onde será recebido com honras militares. Da base aérea, a relíquia segue para o Palácio de Itamaraty, na capital brasileira, de onde só sairá na terça-feira, pelas 16:00, para marcar presença numa cerimónia no Palácio do Planalto às 17:00.

Depois da cerimónia, onde estará presente o Presidente da República brasileiro, Jair Bolsonaro, o coração segue novamente para o Palácio Itamaraty, onde será apresentado ao corpo diplomático e onde ficará em exibição “controlada” até às comemorações do bicentenário da independência, no dia 07 de setembro.

As diferentes cerimónias serão acompanhadas pelo presidente da Câmara do Porto.

O coração de D. Pedro regressa à cidade do Porto no dia 09 de setembro, ficando novamente em exposição nos dias 10 e 11 de setembro, antes de voltar a ser guardado a cinco chaves.

A transladação temporária do coração de D. Pedro para o Brasil foi aprovada por unanimidade pelo executivo da Câmara do Porto no dia 18 de julho.

Aos vereadores, o presidente da Câmara do Porto garantiu que a peritagem técnica, solicitada ao Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, concluiu ser possível realizar a translação mediante a “exigência de um transporte em ambiente pressurizado”.

“A Câmara Municipal do Porto assegurará todas as diligências necessárias, assim como a articulação com outras entidades, em especial com as autoridades brasileiras, no que concerne à segurança da operação de transporte”, salientou Rui Moreira.

O anúncio de que o governo brasileiro tinha enviado um pedido oficial a Portugal para a transladação do coração de D. Pedro foi feito a 30 de maio pelo embaixador brasileiro George Prata, um dos coordenadores das comemorações.

A confirmação de que o órgão viajaria temporariamente para o Brasil chegou a 22 de junho pelo presidente da Câmara do Porto numa conferência de imprensa.