Já o debate, no parlamento, estava prestes a terminar quando António Costa respondeu a Heloísa Apolónia, dos Verdes, que, tal como o PCP e o Bloco de Esquerda, lhe colocou o problema das rendas excessivas.

“Quando o senhor primeiro-ministro diz que temos de renegociar é para quê? É com vista a acabar com esta vergonha nacional?”, atirou Heloísa Apolónia, interpretando o que Costa dissera antes, de renegociar à medida que os contratos forem terminando.

Na resposta, tal como aconteceu com o PCP e o Bloco, o chefe do Governo foi moderado – “precisamos melhorar o quadro contratual e regulatório” – mas deixou uma explicação: as empresas grandes como a EDP têm “manhas” e passaram de uma atitude dócil para com o anterior governo para uma atitude hostil com o atual executivo.

“Tenho conhecimento de como certos operadores, designadamente a EDP, têm várias manhas para conseguirem contornar muitas vezes, com a indevida cobertura das entidades reguladores, aquilo que é garantido”, disse.

Antes do PEV, que também pediu ao Governo que seja “mais rápido” nas decisões quanto a direitos dos trabalhadores, já a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, tinha a questão em torno das investigações à EDP e à REN, e abordou os Contratos de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC) - muitas vezes caracterizados como "rendas excessivas" pagas pelos contribuintes nas suas faturas de eletricidade.

Costa pediu que se recordasse o que já foi feito, nomeadamente existirem 800 mil famílias com tarifa social de eletricidade, quando, em 2015, eram 60 mil. E o objetivo global, admitiu, é reduzir a conta da eletricidade para “as famílias, as empresas e para o Estado”.

Entre as intervenções de Catarina Martins e Heloísa Apolónia, também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, falou do “escândalo inaceitável” que são as chamadas rendas excessivas, mas a resposta de Costa foi no mesmo tom.

E Jerónimo também alertou o primeiro-ministro para a "frustração" pelo "arrastamento e atraso na resolução de muitos problemas" da escola pública, por exemplo.

À direita, PSD e CDS não falaram desta polémica.

O líder parlamentar social-democrata, Luís Montenegro, fez subir a temperatura do debate quando perguntou, por várias vezes, se a decisão do Governo de retirar o Uruguai, Jersey e ilha de Man da lista de paraísos fiscais se tinha ou não baseado num parecer da Autoridade Tributária (AT), invocando uma contradição entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade.

O que levou Costa a interrogar Montenegro se "não tem mais nadinha para perguntar".

Montenegro ainda acusou o Governo de ter conseguido atingir o défice à custa de cortes na saúde e na educação.

Pelo CDS, a deputada e líder, Assunção Cristas, questionou António Costa sobre as garantias que poderia dar sobre a realização dos exames nacionais nas escolas, apesar da greve decretada pelos sindicatos para esse dia.

Costa deixou a esperança de ainda chegar a um acordo com os sindicatos, mas se isso não acontecer recorrerá aos serviços mínimos.

Do pingue-pongue entre a bancada do Governo e a oposição, registem-se ainda algumas informações.

Em resposta a “uma preocupação” do CDS, o primeiro-ministro e líder do PS afirmou que o Governo não se opõe a uma eventual entrada de capital da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Montepio Geral, dizendo “confiar no juízo” do provedor, Pedro Santana Lopes, neste “dossier”.