“Sim, sim, sim”. Foi de braços no ar, com a bandeira do Brasil na mão, que Raquel Muniz votou convictamente pelo sim ao “impeachment” de Dilma Rousseff. "O meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com a sua gestão", começou por dizer, invocando, como outros deputados, o nome de vários familiares: “O meu voto é por Tiago, por David, Gabriel, Mateus, minha neta, Júlia, minha mãe, Elza”. A deputada federal acrescentou ainda que “meu voto é pelo Norte de Minas, por Montes Claros, por Minas Gerais. É pelo Brasil”.

Parecia sair vitoriosa com a derrota de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, no passado domingo. Mas Raquel Muniz não esperava que, na segunda-feira de manhã, a Polícia Federal batesse à sua porta, para deter preventivamente o marido, que tinha assistido à votação em Brasília, e que ela referira como um exemplo de gestão. Além do perfeito de Montes Claros, Ana Paula de Oliveira Nascimento, secretária da Saúde do município, também foi detida.

De acordo com a Folha de São Paulo, numa operação denominada “Máscara da Sanidade II – Sabotadores da Saúde”, as autoridades brasileiras suspeitam que Ruy Muniz inviabilizou a existência e o funcionamento de hospitais públicos e filantrópicos pelo Serviço Único de Saúde (o equivalente ao nosso Sistema Nacional de Saúde). O Globo avança que os acusados teriam tentado prejudicar o funcionamento dos hospitais públicos ao favorecerem o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro da Silveira, uma instituição de saúde privada, que pertence a Ruy Muniz e familiares.

Os investigadores afirmam ainda que Ruy Muniz tem feito uso de verbas públicas para promover uma campanha de difamação contra hospitais concorrentes. Segundo a investigação, este favorecimento traduz-se em 26 mil consultas especializadas e 11 mil exames em hospitais que deixaram de ser feitos pelo Serviço Único de Saúde.

De acordo com a Folha de São Paulo, a operação teve de ser iniciada logo após a votação do “impeachment” devido a um lapso do Tribunal Regional Federal, que publicou o mandado de captura no seu site, tornando-o rapidamente notícia nos meios de comunicação de Montes Claros. “Isso fez com que a Polícia Federal tivesse que antecipar as suas ações, cumprindo o mandado imediatamente após a sessão de “impeachment”. Mas não foi planeado, nada preparado”, explicou Marcelo Freitas, chefe da Polícia Federal do norte de Minas, à Folha de São Paulo. Segundo Marcelo Freitas, a pena pode ir até 30 anos de prisão e, se a prisão preventiva não for revogada no prazo de 15 dias, Ruy Muniz será afastado do cargo.

A Prefeitura de Montes Claros emitiu um comunicado a anunciar a revogação da decisão que considera “absurda”. Até ao momento, Raquel Muniz não teceu nenhum comentário.