O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) anunciou hoje a abertura de um procedimento de averiguações a uma reportagem emitida na edição de domingo do “Jornal Nacional da TVI” sobre o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande.

Num comunicado hoje divulgado, a direção de informação da TVI considera “perfeitamente normal e inquestionável” a abertura de um processo de averiguações sobre a cobertura jornalística dos acontecimentos em Pedrógão Grande, no entanto questiona por que é que essas averiguações incidem apenas numa reportagem emitida no domingo no Jornal das 8, esclarecendo que “o Jornal Nacional da TVI acabou em 2009”. “Isso é algo que já não se entende e carece de uma explicação por parte do regulador”, defende.

“Porquê a TVI? Porquê só a TVI? E o que de especial havia nessa reportagem que motiva a ERC justificar-se com uma sintonia ‘com a sociedade portuguesa’ que nunca ninguém viu? Ou de ensaiar julgamentos morais com critérios que não são explicados, mas que, no entender dos conselheiros, serão suficientes para calibrar o que os próprios consideram ser ‘uma sensibilidade profissional a toda a prova’”, questiona a direção de informação, garantindo que “não recebe lições de ninguém sobre sensibilidades profissionais”, “nem do regulador, que se deve limitar ao cumprimento do seu dever e da missão que lhe foi fixada pelas leis da República”.

A direção de informação alega que “há órgãos de comunicação social que decidiram revelar as fotos de crianças que morreram nos incêndios” e que “outras televisões abriram os seus principais serviços noticiosos mostrando corpos espalhados no chão”, mas que “não têm sido essas as opções editoriais” da TVI.

Os responsáveis pela informação do canal garantem que a TVI “tem procurado respeitar a dor de quem sofre, sem a esconder”.

Apesar de a ERC não referir qual a reportagem em causa, em relação à qual recebeu “mais de 100 participações que contestam o plano televisivo em que aparece um dos cadáveres da tragédia”, a direção de informação admite que deverá tratar-se de “uma reportagem ‘live on tape’ que a jornalista diretora-adjunta da estação [Judite de Sousa] realizou em aldeias onde bombeiros ou equipas de resgate tinham sequer ainda chegado”.

Num dos locais onde a jornalista realizou a reportagem “estava efetivamente um cadáver, estendido há muitas horas e tapado com um lençol branco – a pior das metáforas da incapacidade da assistência civil atender todas as populações que foram implacavelmente atacadas pelas chamas”. Para a direção de informação da TVI, “esta circunstância confere um evidente relevo informativo, que não compete ao regulador definir”.

O fogo, que deflagrou às 13:43 de sábado, em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, alastrou depois aos concelhos vizinhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, no distrito de Leiria, e entrou também no distrito de Castelo Branco, pelo concelho da Sertã.

O último balanço oficial dá conta de 64 mortos e 135 feridos.

Há ainda dezenas de deslocados, estando por calcular o número de casas e viaturas destruídas.

Além de Pedrógão Grande, existem quatro grandes fogos a lavrar nos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco. A cobertura noticiosa do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande levou também o Sindicato dos Jornalistas (SJ) a pronunciar-se.

Num comunicado hoje divulgado, o SJ condenou o sensacionalismo da cobertura noticiosa dos incêndios, recordando que "não deve ser perturbada a dor" das pessoas envolvidas e instou os órgãos reguladores, nomeadamente a ERC e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, "a agirem" perante os casos que não cumpram as regras deontológicas.