Ouvido como testemunha durante o terceiro dia do julgamento dos arguidos Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko, no Juízo Central Criminal de Lisboa, Luís Neves explicou que nem sempre um polícia consegue seguir protocolos de identificação quando não está fardado e se depara com situações imprevistas que exigem uma intervenção, recorrendo à sua experiência pessoal.

“Há matérias que estão mais ou menos protocoladas. Nem todas as situações são iguais. Em vários momentos da minha vida detive várias pessoas tendo-me identificado com gritos, pela impossibilidade de me identificar de outra forma. É logo ‘Polícia!'”, disse, num tom mais alto e levantando os braços no ar para ilustrar perante o tribunal.

Luís Neves repetiu a ideia e defendeu os agentes que declararam em tribunal que se identificaram como polícias ao acorrer à confusão no exterior da discoteca, embora não estivessem de serviço.

O diretor da PJ chegou mesmo a ver as imagens de videovigilância e reiterou que a situação que se viveu naquela madrugada de 19 de março de 2022 não daria espaço para uma forma de identificação muito diferente.

“São frações de segundo, é de reação humana, instantânea”, argumentou, continuando: “Nessas situações imprevistas, que foram muitas, nunca puxei da carteira para me identificar como polícia”.

Questionado pela defesa de Cláudio Coimbra, Luís Neves garantiu que a Direção Nacional da PJ não deu qualquer indicação relativamente a este caso, uma mensagem que foi corroborada no depoimento seguinte, que coube ao diretor da PSP.

“Não tive qualquer contacto [com os agentes antes de serem ouvidos]. Tive conhecimento pelo comando metropolitano”, resumiu Magina da Silva.

O capelão da base do Alfeite que saiu em defesa de Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko na sequência do caso e das críticas então proferidas pelo Almirante Gouveia e Melo foi igualmente ouvido nesta terceira sessão, tendo assegurado que os dois ex-fuzileiros “não tinham muita consciência” do que tinha acontecido naquela madrugada.

“Foram-se embora na boa… Quem ficou ali com o Fábio Guerra estava mais preocupado porque o Fábio Guerra ficou ali. Quando receberam a notícia de que o Fábio Guerra morreu ficaram em baixo, ficaram de rastos”, contou Licínio Lima, reiterando que Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko foram atacados e responderam: “Eles foram atacados. Se sou atacado, eu defendo-me. Alguém lhe dá três murros, o que é que fazem em defesa? Defendem-se”.

O coletivo de juízes — presidido pela juíza Helena Susano e coadjuvado por quatro jurados neste tribunal de júri – agendou a realização das alegações finais para esta sexta-feira à tarde.

O agente da PSP Fábio Guerra, 26 anos, morreu em 21 de março de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, devido a “graves lesões cerebrais” sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome, em Alcântara, quando se encontrava fora de serviço.

O Ministério Público (MP) acusou em setembro os ex-fuzileiros Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko de um crime de homicídio qualificado, três crimes de ofensas à integridade física qualificadas e um crime de ofensas à integridade física simples no caso que culminou com a morte do agente da PSP Fábio Guerra.