A comunicação de Donald Trump, nos jardins da Casa Branca, em Washington, estava marcada para as 15:00 locais (20:00 em Lisboa), mas foi atrasada devido a um ataque a um hotel-casino em Manila, que provocou dezenas de feridos. Cerca de meia-hora após a hora agendada, a subida de Mike Pence foi anunciada. O vice-presidente dos Estados Unidos da América tomou conta do microfone e deu as boas-vindas ao presidente norte-americano, "Graças a Donald Trump, a América está de volta", disse.
Poucos segundos depois, Trump subia ao púlpito para anunciar uma decisão histórica, recuperando o lema da campanha presidencial: A América está primeiro.
"Para proteger a América e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão sair do Acordo de Paris", anunciou o presidente norte-americano que classificou o acordo como "uma redistribuição maciça da riqueza dos EUA por outros países".
"Eu não posso apoiar um acordo que pune os Estados Unidos, que é o que este faz", disse Trump.
A Índia foi exemplo dado pelo presidente norte-americano para justificar a 'injustiça' do acordo. "A Índia pode dobrar a produção de carvão até 2020. Pensem nisso", disse.
"Não queremos que outros líderes e outros países se riam de nós, e isso não vai acontecer", sublinhou Donald Trump.
"Fui eleito para representar cidadãos de Pittsburgh, não de Paris", acrescentou.
Reabrir vinte anos de negociação
Os próximos tempos serão de negociação, anunciou o governante: "Vamos começar a negociar e vamos ver se conseguimos chegar a um acordo melhor. Se não conseguirmos, tudo bem", disse Trump, afirmando que pretende um acordo "justo" que beneficie as "empresas e cidadãos americanos".
Desta forma, o presidente norte-americano pretende negociar a reentrada no Acordo climático de Paris ou na criação de um novo acordo sobre as alterações climáticas em que as exigências dos Estados Unidos sejam ouvidas. Até lá, disse Trump, os EUA estão fora do Acordo de Paris.
O presidente dos Estados Unidos aproveitou ainda a ocasião para condenar o ataque desta tarde em Manila, nas Filipinas, "é realmente muito triste o que está a acontecer em todo o mundo".
De acordo com a agência Reuters, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris será feita num prazo de quatro anos, em conformidade com os procedimentos definidos no quadro das Nações Unidas.
A saída do acordo deixa os Estados Unidos da América isolados de uma série de aliados internacionais que passaram anos a negociar o acordo alcançado em dezembro de 2015 para combater o aquecimento global, através da dedução das emissões de gases com efeito de estufa em cerca de 200 Estados. O cenário da saída alinharia os EUA apenas com a Rússia, entre as economias industrializadas.
Menos de dez dias depois da eleição de Donald Trump, a 17 de novembro de 2016, os Estados participantes na 22.ª conferência internacional da ONU sobre o clima (COP22) aprovaram a “declaração de Marraquexe” e apelaram para “o compromisso político máximo” contra o aquecimento global. “Nós, chefes de Estado, de Governo, e delegações reunidos em Marraquexe, em solo africano (…) apelamos para o compromisso político máximo para combater as alterações climáticas, uma prioridade urgente”, lê-se na declaração, considerada uma proclamação pelo clima e pelo desenvolvimento sustentável.
Um dia antes desta declaração, a 16 de novembro, também um conjunto de líderes de algumas das maiores empresas americanas apelaram a Trump para que se mantivesse no acordo. Entre estes estão os de Apple, Google e Walmart. Até empresas das energias fósseis, como ExxonMobil, BP e Shell, defenderam a permanência dos EUA no acordo. “Nós, membros da comunidade empresarial e investidores nos Estados Unidos, reafirmamos o nosso firme compromisso de responder às alterações climáticas com a aplicação do histórico acordo de Paris”, referem no apelo público divulgado à margem da conferência do clima promovida pela ONU em Marraquexe.
Na carta, as empresas manifestaram-se a favor de soluções de eficiência da economia americana no plano energético, baseadas numa energia baixa em carbono e com “soluções inovadoras”. “Mantemos o compromisso de fazer a nossa parte para cumprir o objetivo de Paris para uma economia mundial que mantenha o aquecimento global abaixo dos 2°C”, afirmam os signatários.
Já em dezembro, um grupo de 800 cientistas enviou uma carta ao então presidente eleito dos Estados Unidos na qual pedem medidas para combater as alterações climáticas. “Muitas das cidades e dos maiores estados dos Estados Unidos já se comprometeram (a combater as alterações climáticas). Exigimos que decida se quer que a sua presidência seja definida como a negação e o desastre ou a aceitação e a ação”, escreveram.
O acordo histórico teve como “arquitetos” centrais os Estados Unidos, então sob a presidência de Barack Obama, e a China, e a questão dividiu a recente cimeira do G7 na Sicília, com todos os países a reafirmarem o seu compromisso em relação ao acordo com a exceção de Washington. Trump nunca escondeu a sua intenção de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, que foi aliás uma das bandeiras da sua campanha eleitoral. Hoje reafirmou o discurso "América primeiro" que marcou a sua campanha, justificando a saída do acordo com os interesses económicos americanos.
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